VIAGEM AO PANTANAL,
REGIÃO DO RIO PIQUIRI.
Saída no dia 25-09-2003.
CAPÍTULO I.
Nesta viagem, por termos nos lembrado muito do saudoso primo
José Cássio Marques Carvalho, vamos dedicar
este relato do passeio a ele:
Preclaro primo e amigo José Cássio: Na imensidão
destas águas azuis, deste verde exuberante onde a onça
pintada ainda sobrevive, elevamos nosso pensamento a você,
pois o imaginamos aqui conosco, uma presença espiritual
tão concreta quanto o seria a física, pois confiamos
que um dia, em algum tempo, na eterna sabedoria e magnificência
de Deus, estaremos juntos recordando esses acontecimentos.
Esta fotografia foi obtida por um satélite
da EMBRAPA. Região de Corumbá, a capital do
Pantanal. Ela mostra
apenas a microrregião de Corumbá. O traçado
azul é o Rio Paraguai; na base da foto, onde há
uma bifurcação do rio, a mancha quadriculada
é a cidade de Corumbá. A mancha azul é
o Porto Soares na Bolívia. Escala: 1:25000. Depois
da ilha, que aparece na fotografia, mais ou menos 20 Km acima,
fica o Porto Saracura, onde
tivemos que parar o barco Shekinah para pouso, em virtude
de mau tempo terrível, que se formou a partir da meia
noite.
Esta foto do satélite simboliza a beleza que é
o nosso Pantanal, visto do espaço. É a maior
planície alagada do mundo.
Resumo da viagem:
Nosso programa seria sairmos de Ribeirão Preto na quinta-feira
por volta de 19:00h, eu e o Machadinho, para irmos dormir
em Três Lagoas. No outro dia, sexta-feira, nos encontraríamos
com o Augusto em Água Clara, idade onde ele tem uma
de suas fazendas.
Sairíamos de lá com as duas caminhonetes, para
nos encontrar com o Patrick, filho do Machadinho, em nastácio,
e seguirmos para Corumbá, onde pegaríamos o
Barco Shekinah, para fazermos a maior pescaria de todos os
tempos.
São 16:00hs do dia 25-09-2003. Faltam três horas
para a saída para o Pantanal. Com tempo livre no consultório,
entrei na Internet para ver, pelas fotografias do satélite
da EMBRAPA, a localização exata do tal Rio Piquiri.
Fui seguindo o Rio Paraguai para o norte e localizei a barra
do Rio São Lourenço, o qual subiríamos
após abandonar o Rio Paraguai, para então passar
pelo Porto Jofre, alcançando, finalmente, o Rio Piquiri.
Bem, companheiros, fiquei gelado diante da imensa distância
a ser percorrida. Fiquei gelado diante da complexa rede hidrográfica
da região. Enfim, seria uma aventura mesmo. Na mesma
hora liguei para o Comandante Chico, em Corumbá, para
sentir se ele estava preparado. Ele iria levar um pirangueiro,
o Padilha, que era profundo conhecedor da região. Senti
firmeza. Ele havia enchido os dois tanques de óleo
diesel do barco, que são 1.500 litros, mais um tambor
com 200litros. A tripulação estava nos esperando
para sairmos de Corumbá às 16:00 do dia seguinte.
Ribeirão Preto (waypoint), posição geográfica
pelo GPS, em minha casa:
Latitude Sul 21º 19`3534``; Longitude W 47º 81`2570``.
Ás 19h e 20m, Machadinho e eu saímos de Ribeirão
Preto com a Silverado.
Tínhamos 490km pela frente até chegarmos em
Três Lagoas.
A viagem foi uma maravilha! Dá gosto transitar pelas
estradas do Estado de São Paulo...A mesma sensação
tivemos quando pegamos a pista dupla da via Marechal Rondon.
Coloquei 130km/h no automático e seguimos, numa ótima
prosa, até nosso destino.
Praticamente não vimos o tempo passar, embora tivéssemos
percorrido 475km em 4h e 13m, conforme o GPS.
Dormimos no hotel Vila Romana. No outro dia, iríamos
nos encontrar com o Augusto, às 9:00h, em Água
Clara, mas, as 6:00h, já estávamos de pé.
Adrenalina solta no sangue, pé na estrada.
Chegamos ao destino trinta minutos antes do combinado, mas
o Gustão, por motivos justos, atrasou-se vinte minutos,
o que é normal. Tentamos nos comunicar com ele pelos
celulares e pelo telefone da fazenda, mas não o conseguimos.
O importante é que ele chegou animado e assim, “batemos”
para Campo Grande,
nossa próxima parada para abastecimento. O Machadinho
foi com a Ranger do Gustão, assim, ele e eu pudemos
ir proseando sobre vários e empolgantes assuntos.
Aí ficou mais difícil de andar na estrada, tantos
eram os buracos existentes. De todos os tamanhos, largura
e profundidade, espalhavam-se por todos os lugares, até
mesmo no acostamento – quando havia...Nessas horas dá
saudade dos pedágios e das boas estradas paulistas...
Com todo cuidado e atenção, andando dentro dos
limites máximos de segurança, conseguimos chegar
em Campo Grande às 11h20m.
Abastecemos, e partimos para Aquidauana&Anastácio,
aonde chegamos às 13:00h, em cima da pontualidade,
conforme o combinado com o Patrick. Ele havia ligado quando
estávamos em C. Grande, e eu disse para ele e o pai
irem com a Ranger do Gustão. Assim, foi chegar e sair,
pois ele já estava preparado.
Na primeira fotografia, Machadinho em posição
de partida do Hotel em Três Lagoas, hora 7:00. Na segunda
fotografia, Patrick, Machadinho e Augusto, em Anastácio
na porta do hotel onde nos encontramos com o Patrick, o mais
novo companheiro do grupo.
Os 75km de asfalto da estrada de Anastácio a Miranda
estavam bons, felizmente.
De Miranda para frente existem trechos que dão medo,
pois os caminhões, ao se desviarem dos buracos, vêm
por cima dos demais veículos, mas conseguimos andar
sem grandes problemas.
Chegamos em Corumbá, ou, mais precisamente em Ladário
às 16:00hs, ou seja, com mais de 1 hora de atraso do
nosso plano original.
O GPS acusou 1235 Km de Ribeirão Preto a Corumbá,
com um tempo real de viagem muito bom: 12h36m, descontando
as paradas.
Corumbá – Waypoints, Porto do Hotel Gold Fish em Ladário:
Latitude Sul 19º 00`0146`` e longitude W 57º 55`7373``.
Somente saímos do porto às 17:30, pois o Patrick
foi comprar umas coisas que faltavam e eu fui ver outras;
assim, houve mais um pouco de atraso. Antes de sairmos, o
Chico chegou para mim e disse: -- Doutor, pelo que andei conversando,
o óleo diesel que temos não vai dar para a viagem,
acho que devemos levar mais 300litros! - Não tem dúvida,
Chico, pare no atracadouro do posto e vamos levar. Assim,
de atraso em atraso, saímos de Corumbá somente
na “boca da noite” e que noite se anunciava, pelas condições
meteriológicas do momento...
Enquanto eu e Patrick fomos à cidade,
o Gustão e Machado ficaram no bar do Hotel Gold Fish,
“quebrando o bico” de umas cervejas. Ficaram bem alegres,
isto antes de iniciarmos a viagem. Deu trabalho retirar os
dois do “boteco” e embarcá-los para a grande viagem.
Machadinho, ainda com o copo e a latinha na mão, Gustão
até esqueceu a camisa para trás... Eta! Que
companheirada boa! Para eles não tem tempo feio. Gustão
gritou: -Não vem não, pica-pau, aqui é
aroeira. É, depois da cirurgia o homem está
uma aroeira mesmo, graças a Deus.
Nesta foto estou na parte superior do Shekinah,
estamos saindo para a grande aventura. Um grande CB (Cumulo
Nimbos) estava se formando ao norte de Corumbá. Pelo
aspecto da água do Rio Paraguai, pode-se perceber as
rajadas de ventos de mais de 20 nós, que naquele momento
varriam a região.
Os possantes motores do barco, dois MWM de 190HP, turbinados,
levaram com muita tranqüilidade a embarcação
pelo rio, embora as ondas às vezes varressem o tombadilho,
mas nada que comprometesse a segurança ou a navegabilidade
da embarcação.
Saímos, como já disse, às 17:30h do atracadouro.
Pretendíamos navegar a noite toda, pois tínhamos
38 horas de viagem pela frente e uma distância de 380km,
o que, para um barco de 13 toneladas não é pouco,
e sim, muito!
Antes que a noite caísse, convoquei o cozinheiro Roberto
para fazer a janta. Estávamos com fome, pois não
havíamos parado para almoçar. Importante esclarecer
que, durante as viagens noturnas, no barco não deve
haver nenhuma luz acesa, a não ser as luzes de navegação,
pois se a cabine estiver iluminada à visão do
piloto fica prejudicada. Assim, queríamos jantar antes
da escuridão e depois subirmos na cobertura do barco
para apreciarmos o Pantanal.
Obs: as luzes de navegação básicas são
3: Luz de popa – Branca; luz a estibordo – verde; luz a bombordo
– vermelha.
O cozinheiro perguntou-me o que nós queríamos
comer. Logo, o Gustão deu uma de machão:
- Eu já previa isto, e trouxe um belo frango pronto,
oferecido pela Alice e confeccionado pela Ana, incluindo uma
sobremesa de doce de abóbora. Assim, o cozinheiro somente
esquentou o frango e refogou um arroz para
acompanhar.
Comemos rapidamente e subimos para vermos o tempo, e que tempo!
Como veremos no mapa, na saída de Corumbá o
Rio Paraguai faz numerosas curvas, por isso ora enfrentávamos
o vento de proa, que segurava muito a embarcação,
ora enfrentávamos o vento de través, que também
dificultava um pouco a navegação.
Às 20:00h começou a chover. Recolhemo-nos e
quem havia tomado uns uísques e cervejas, foi para
a cama.
Eu, como gosto da navegação, queria instalar
o GPS, o que não foi possível naquele dia porque
o Chico não havia arranjado a tomada. Assim, como veremos,
o início da viagem ficou sem marcações
geográficas. Fiquei ao lado do comandante Chico.A escuridão
caiu pesada, como um manto negro, sobre a embarcação.
Pelo radio soubemos que dois barcos se aproximavam Ӈguas
abaixo”. Avisamos que o Shekinah estava “águas acima”.
Depois de 20 minutos cruzamos com o primeiro: luz vermelha
cruzando com luz vermelha, bombordo&bombordo. É
fantástico ver ao longe, na noite chuvosa, naquela
imensidão de águas, dois pontos luminosos solitários,
um verde e outro vermelho: é embarcação
vindo. Enquanto toneladas se deslocam, a chuva abafa o som
dos potentes motores da embarcação permitindo
perceber somente suas luzes se aproximando: são como
olhos de monstros, riscando a escuridão da noite. Aos
poucos, apenas a luz vermelha fica visível; é
bombordo voltado para bombordo.
Como estávamos em rotas diferentes não há
perigo de abalroamento. Há momentos que o comandante
Chico fica em dúvida e aciona os quatro potentes faróis.
Na tentativa de visualizar melhor as margens do grande rio,
liga também o facho com controle remoto. Felizmente
as condições da noite melhoraram após
a passagem do CB e, às 21:00hs, uma tímida lua
crescente aparece entre as nuvens.
O Chico se acalma e aumenta um pouco a rotação
dos motores. A mata ciliar dá o balizamento da rota.
O Chico, como todos os comandantes, conhece o rio de cor,
sabe o nome de todas as curvas, a localização
de todos os baixios, além do eficiente balizamento
das margens do rio feito pela marinha.
Nestas horas não tem papo com o Chico, o máximo
que ele faz é dar um ligeiro sorriso, quando tudo está
bem. Caso contrário, ele nem pisca. Depois do Estirão
da Faia, nós, com mais de 5 horas de viagem, estávamos
a duas curvas do Porto Saracura, quando o céu escureceu
de vez. Não se via mais nada.
Por medida de segurança resolvemos aportar. O Chico
acendeu os faróis do Shekinah e partiu em busca de
uma árvore em um barranco, sua velha conhecida.
Na escuridão da noite os faróis apenas iluminavam
uma cortina brilhante dos bilhões de gotas dágua
que, a cântaros, caíam das nuvens. O Chico manteve
o curso, pois sabia que a árvore estaria lá.
Depois de alguns minutos, vimos à árvore, uma
grande piuva. Mas, antes eu havia me assustado um pouco, pois
vira o brilho de duas luzinhas, que mais pareciam brasas,
no rumo de nossa rota. “Guentei em copas”, felizmente, pois
quando chegamos mais perto, era o brilho dos olhos de um grande
jacaré, que com a barriga estufada de tanto comer curimbatás,
descansava estático no barranco da piuva. Ele parecia
estático, como um tronco na margem do rio,
brilhando pela chuva que caía, mas quando o barco roçou
os iguapés, ele, como se tivesse recebido um choque,
arrancou com uma rapidez indescritível e mergulhou
no rio, com um estrondo de revolta por termos perturbado seu
sucesso e seu sono.
Logo, o Padilha e o Roberto, um a estibordo, outro a bombordo,
puxaram as amarras e imobilizaram o Shekinah.
A esta altura, só nos restava dormir. Era 01:00h, havíamos
navegado apenas 5:30h e andado pouco mais de 48km. Estávamos
num lugar chamado Zé Boca e foi ali que aconteceu nosso
pouso forçado.
O Pantanal de Mato
Grosso:
Fui para a cama, mas com tanta adrenalina no sangue, estava
muito difícil conciliar o bendito sono, assim comecei
a pensar o que era o Pantanal e onde estávamos naquele
momento.
O Pantanal corresponde a uma extensa superfície de
acumulação, de topografia plana, tendo suas
cotas altimétricas oscilando entre 80 a 200m. Constitui-se
de uma ampla depressão em forma poligonal, com seu
maior eixo no sentido norte sul, para o interior da qual direciona
uma complexa rede hidrográfica, sujeita a inundações
periódicas, sendo o Rio Paraguai o principal eixo da
drenagem fluvial de toda a região.
Naquele momento, estávamos sob uma chuva torrencial,
na região do porto Saracura, ancorados às margens
do Rio Paraguai.
Embora o Pantanal seja conhecido pelo alagamento de extensas
porções territoriais, este fato não decorre
de grande precipitação pluviométrica
na região, mas sim pela grande quantidade de rios que
drenam para o interior do mesmo. Aliado a isso está
o baixo gradiente do declive topográfico do pantanal,
que em torno de 0,3 a 0,5m/km. Ou seja, o Rio Paraguai, por
exemplo, no percurso de 1km pode ter um desnível de
apenas 3 centímetros. Isto é um fato importantíssimo
para que a depressão do Pantanal possa receber, no
período das cheias, grande quantidade de sedimentos
(siltes), vindos do planalto que o circunda.
O Pantanal de Mato Grosso não é homogêneo,
ele é formado por vários tipos de terrenos,
de vegetação e constituições morfológicas.
No momento, por exemplo, estávamos subindo uma região
chamada de Pantanal do Paiaguás, origem dos índios
que habitam esta maravilhosa região.
Para nós, caboclos pantaneiros, existem 3 tipos de
Pantanais: Pantanal alto (nunca sofre inundações);
Pantanal Baixo (todo o ano sofre inundações,
formando baias, corixos e fertilizando o solo); e Pantanal
das Cordilheiras ou Morrarias. Em quando meditava em tudo
isto, o sono veio e somente acordei...
Sábado, dia 27-09-2003.
Acordei às cinco horas da manhã, e subi na cobertura
para ver o dia nascer. Tentei escrever minhas emoções
e os quadros que se sucederam. Mas, apaguei tudo, depois que
li um artigo na Folha de São Paulo sobre esses momentos,
e tomo a liberdade de transcrevê-lo, pois o autor desse
artigo soube de forma muito feliz transcrever o que ocorre
na beira de um rio, entre matas galerias, durante o raiar
do dia:
Raiou, resplandeceu, iluminou.
DRAUZIO VARELLA.
Quando acordei, estava escuro, a silhueta a floresta amazônica
se perdia de vista às margens do rio. Vindo de pontos
esparsos, o pio dos primeiros pássaros quebrava mo
silêncio da madrugada.
Fui buscar o computador. Sentei-me na proa do barco-escola
ancorado junto à boca do rio Cuieiras, afluente do
Negro, decidido escrever uma descrição como
as do tempo da escola primária no Liceu Acadêmico
São Paulo, no Brás, com a pretensão talvez
descabida de tentar descrever o indescritível e compartilhar
com os leitores a beleza suprema de uma aurora nesse canto
do Brasil, intocado como antes da chegada dos portugueses.
A melodia harmoniosa do canto de uma ave solitária
coincide com o aparecimento gradual de um brilho fosco, cinza-prateado,
mal perceptível acima do contorno das árvores,
logo a minha direita. Lentamente, a partir desta área,
um facho prateado se espalha em formato de concha, ganha intensidade
luminosa, realça a linha sinuosa que une as copas das
árvores situadas à minha gente e se projeta
contra a mata da margem oposta. Nela, tornam-se discerníveis
a massa de folhagem, os troncos mais altos e uma nesga de
praia esbranquiçada. Impávido, o rio permanece
negro, alheio à timidez dos primeiros passos que a
aurora ensaia no leste.
Habituado ao cinzento dos prédios e às fendas
de céu que se esgueiram entre eles, meu olhar se perde
reflexivo numa volta de 360 graus por aquela imensidão
desabitada. Quando retorna a ponto de partida, encontra o
prateado mais reluzente e os primeiros tons alaranjados a
colorir a textura delicada das nuvens mais próximas,
que se desgarram da luz central. Em resposta imediata a essa
mudança de tonalidade, o verde da margem oposta se
torna mais definido, e os troncos das árvores altas
emergem soberbos, alaranjados, do interior da mata.
Uma cortina de névoa translúcida se desprende
da superfície das águas, penetra as margens
da floresta e borra com magia os limites do horizonte. A luminosidade
antes homogênea do nascente adquire um núcleo
central amarelo mais intenso, já capaz de se intrometer
entre os galhos das árvores em seu caminho, iluminar
com total nitidez a margem oposta e se refletir com suavidade
nas cristas das ondulações miúdas do
rio, movidas por um sopro suave de vento, que bate de encontro
à pele; sensação de prazer inacessível
na cidade.
O azul-escuro do céu clareia a cada minuto, ao mesmo
tempo em que as nuvens alaranjadas se irradia em círculos
que desbotam à medida que se afastam pelo espaço,
até se desfazerem em fiapos de algodão esgarçados
no ato de tentar cobrir uma área azul maior do que
seria possível.
A bruma espessa que repousa sobre a superfície do rio
até onde a vista alcança começa a se
esvair à distância, com sutiliza, para se aglomerar
concentrada em bolsões que pousam ao acaso no seio
da floresta. O rio se alarga, afunila e lá longe perde
a nitidez no meio dela. No centro geométrico da claridade
nascente, o dourado ganha força, machuca a vista, define
melhor o contorno das árvores à sua frente e
dissemina infinitas tonalidades de verde nas folhas das árvores
da margem contrária.
As águas baixas, nesta época do ano, deixam
expostos recortes de praias de areão batido, nas quais
jazem troncos contorcidos em formas bizarras, como esculturas
de um museu de arte que submergirá com seu acervo quando
vierem as chuvas.
No rio, a amplitude das ondas diminui, e as águas se
aquietam para formar um imenso espelho que reflete os céus
e a floresta projetada contra ele, em imagens virtuais indistinguíveis
dos objetos que lhes deram origem. Em questão de segundos,
desponta o sol como uma bola de fogo, agride impiedosamente
o olhar desavisado e sobe com pressa, resplandecente, para
impor seu domínio absoluto.
Um reflexo de ouro ondulante forma um longo cone invertido
na superfície âmbar do rio. No céu, o
azul-anil toma conta do espaço, e as nuvens de algodão
alaranjado atingem a região do poente tão espalhadas
e tênues que é preciso firmar os olhos para reconhecer-lhes
as cores. A um palmo acima do dossel da floresta, a bola incandescente
cega quem ousar admirá-la; o movimento do feixe de
ouro cintilante refletido no rio, também. O vento ameno
acaricia a pele aquecida pela incidência dos raios solares.
Folha de S. Paulo 15/11/2003.
Despertei de toda a nostalgia da aurora, com o barulho dos
motores que foram ligados. O tempo estava muito bom para navegar.
Assim continuamos nossa longa viagem. Saímos às
6:00h do Saracura com destino ao Rio Piquiri, tendo pelo menos
mais 30 hs de viagem pela frente.
Saracura, Waypoints latitude Sul 18º 72`8321`` e longitude
W 57º55`7373``
Depois de um estirão e 3 grandes voltas do rio chegamos
no Porto Califórnia, ou melhor dizendo, fazenda. Há
uns 25 anos, na boca do corixo que existia à montante
desta fazenda, eu e o primo José Cássio, tivemos
sorte de encontrarmos um cardume de dourados. Foi uma maravilhosa
manhã de pescaria! Pegamos muitos grandes douradões...
Jamais poderia imaginar que, no ano de 2003, o corixo não
existiria mais, a barranca foi assoreada pelas terras vindas
das erosões dos planaltos e os amarelões já
não conseguiriam se reunir para andar em cardumes...
Fazenda Califórnia, Waypoints latitude Sul 18º
62`0045`` e longitude W 57º51`6888``
MORRO E REGIÃO
DO CASTELO
Pelas fotografias pode-se ver como estava
o tempo no Castelo: o céu coberto por altos estratos
prometendo mais chuvas. Após 30 minutos da Fazenda
Califórnia chegamos no Morro do Castelo. É uma
das regiões mais lindas do Pantanal. Entrando à
jusante da morraria, penetra-se em uma baía muito grande,
onde existia um hotel que, por falta de peixe na região
e hóspedes, atualmente está fechado. Segundo
os moradores da região, neste localhavia a tribo dos
índios Paiaguás. Este povo indígena lutou
durante a guerra do Paraguai, juntamente com os Guaikurus,
ao lado dos brasileiros. Posteriormente, devido às
“atividades” do homem branco, esta tribo foi completamente
extinta.
Segundo o Chico, existem pela região do Castelo vestígios
destas tribos indígenas. No pé do morro existe um poço cuja água
não sai, fica rodando. Os pescadores, naquele tempo,
ficavam rodando no poção, com uma grossa linha
de mão, pegando grandes jaús.
Havia um pescador que, por não nadar muito bem, tinha
muito respeito pela água. Pescava com cautela, segundo
o TIU.
Um belo dia ferrou um grande jaú e, rodando no poço,
foi trazendo o bichão para dentro da piroga. Como não
conseguisse, ele tentou matar o peixe com o remo, quebrando-o
com toda a força na “cabeçona” do “bitelo”.
Com o remo quebrado, e ele não tinha como impulsionar
a canoa. Assim, mesmo com o grande peixe embarcado, ele não
tinha como sair do roda moinho do poção. Dois
dias depois, foi encontrado, pelo filho, já morto dentro
da piroga, rodando e rodando no poço. Eles (pescador
e peixe) já estavam fedendo, viu doutor!”“.
Este é o poção do Morro
do Castelo, cuja água não sai, fica rodando
e rodando. Tornou-se para todos um lugar mal assombrado. Nunca
pesquei nem vi neguem pescar neste lugar. “Yo no creo en brujarias,
pero que hay, hay!”.
Morro do Castelo, Waypoints
latitude Sul 18º 58`6571``e longitude W57º 51`6888``
Logo em seguida ao Morro do Castelo vem o
Campo Dame, hoje um lugar de muitas construções,
mas a tripulação não tinha certeza se
era uma fazenda particular ou alguma pousada. Parece que ali
existe até um aeródromo. Eu ainda estava com
o meu moderno pijama, que segundo o Machadinho, foi da minha
viajem de núpcias.
Pode-se notar que o Gustão está bem conservado.
Diz ele que está fazendo academia... Quem vai poder
com o homem agora? É... ele ganha de mim em tudo, na
verdade, sempre ganhou: beleza, altura, dinheiro... Mas perde
na pescaria! Tenho lhe ensinado a pescar tucunarés.
É um bom aluno, mas nunca superou o mestre!
Campo Dame, Waypoints
latitude Sul 18º 57`4968`` e longitude W57º 48`3312``
Depois de Campo Dame o rio Paraguai faz uma
grande curva, quase voltando para trás: é a
chamada Volta do Tucano, que após um grande estirão
chega no lugar chamado Laranjeira. Depois da grande curva
da Laranjeira, ruma-se diretamente para a boca da Baía
Vermelha. Tenho maravilhosas fotografias da Baía Vermelha,
não sei se haverá espaço nesta aventura
para incluí-las.
Bem, aí está a nossa tripulação:
Roberto (mestre cuca, orientado pelo Patrick); Chico (Comandante
do Shekinah); Padilha (Pirangueiro de grande capacidade).
Na segunda fotografia está o Comandante Chico com seu
auxiliar Sérgio Lima.
A propósito, deste 1973, quando iniciei meu curso de
piloto privado e depois o curso de mestre da marinha, sou
um apaixonado pela navegação, não importando
a condução que esteja usando. A navegação
planejada é sempre importante, em terra, no ar ou na
água. Antigamente, para navegar, usávamos os
rádios faróis e a bússola. Era uma arte
e uma ciência, principalmente nas rotas para lugares
sem o rádio farol, como norte do
Brasil, Mato Grosso e Goiás.
Hoje, com o equipamento GPS (Geo Position Sistem), que é
orientado pelos satélites da Garmin (USA), a navegação,
tornou-se uma ciência, com precisão de erro de
apenas 15 a 25 metros.
Laranjeira, Waypoints latitude Sul 18º 55`2706`` e longitude
W57º 44`1797`` Em toda esta região, existem, como
veremos nas fotografias do satélite da EMBRAPA, inúmeras
baías, corixos e meandros intermináveis, que
se interligam. É água perto de água,
enfim um mundo de água! Não podemos calcular
qual será o valor de toda essa massa de água
para o futuro. Por exemplo, as grandes baías a oeste
do Morro do Castelo vão até a Bolívia,
onde eles têm um porto (Porto Boliviano), incluindo
a presença da marinha Boliviana.
Baia Vermelha, Waypoints latitude Sul 18º 48`7757`` e
longitude W57º 44`6566``.
Na realidade, marcamos o ponto de entrada da Baía,
pois, a região é muito grande.
Ao fundo da baia começam as morrarias, que se prolongam
até a Serra do Amolar.
Pela fotografia do satélite pode-se ver que essas baías,
as da região do Castelo e Vermelha se interligam, formando
um complexo de redes hidrográficas que se prolongam
até a Serra do Amolar. Depois da Serra, as baías
tornam-se mais complexas ainda, incluindo também a
Baía da Gaiva, a Baía Uberaba, que são
as maiores do Pantanal. Somente com um GPS, ou com auxílio
de profundos conhecedores da região, é possível
navegar por essas baías e corixos.
Estas fotografias representam uma pequena e modesta amostra
da Baía Vermelha. Bem ao longe, no horizonte, com boa
vontade, dá para ver uma cadeia de morraria, que, caminhando
para o norte, forma a Serra do Amolar, por onde passaremos,
dentro de 5h de viagem. Além da morraria do horizonte,
na fotografia da esquerda, está nossa divisa com a
Bolívia.
Essa fotografia é do ano de 2002, mostrando o Shekinah
ancorado na entrada da Baía Vermelha. Ao fundo, vê-se
um grande barco de pescadores (hotel flutuante) passando no
Rio Paraguai. Ao lado, um dos ilustres habitantes da região,
o cardeal. Depois da entrada da Baía Vermelha, o Rio
Paraguai descreve um longo caminho até uma fazenda
chamado Sucuri, em cujo trajeto o barco deve ter gasto mais
de 1:30h. Quando pescávamos com o Barco Cabexi, a Fazenda
Sucuri era o lugar mais distante que ele alcançava,
pois logo acima dela inicia-se o maior corixo de todo o Pantanal,
o Paraguai-Mirim. Esta é uma região oferece
inúmeros e ótimos pontos de pesca.
Tenho falado tanto do GPS que acho oportuno mostrar uma fotografia
do equipamento. Na tela ele esta mostrando, esquematicamente,
o Rio Paraguai. O 15,5 mostrado revela a quanto estamos andando,
isto é, à vertiginosa velocidade de 15,5Km/h.
Mostra também que estamos a 44,3 km do destino e devemos
gastar, mais ou menos, 3h23m para a chegada. O pontinho preto
no meio do rio simboliza o Shekinah. O destino assinalado,
no caso, era o Porto dos Novos Dourados, que em linha reta
estaria àquela distância, mas como iremos dar
voltas e voltas, devemos demorar bem mais. A setinha preta
mostra a direção onde está o destino
pedido (no Go To do equipamento). Fazenda Sucuri, Waypoints
latitude Sul 18º 39`4606e longitude W57º 38`9665``.
É, como já disse, lugar de recordações:
A Fazenda ao pé da morraria e tem um corixo que passa
atrás dela. Neste corixo pesquei muito com o José
Cássio, indo de Cabexi. Na frente da fazenda existe
um curral bem simples que, durante as inundações,
fica submerso em mais de dois metros de água. Lembro-me
bem do Cássio, ancorado com a canoa no curral alagado,
pegando piavuçu. Todo emocionado, pulava de alegria
na canoa, ao pegar os piavuçus com sua varinha de bambu,
dizendo que “aquilo sim, é que era pescaria:”É
ali. ó! É na técnica!”. E quem tirava
o Dr. Cássio dali?”.
Ainda posso “ver”, um pouco mais à frente da Fazenda,
minha filha Carolina com uma amiga Estela, de Orlândia,
pescando dourados... São momentos que não se
apagam de minha mente, valorizando o pedaço da Fazenda
e aquecendo o coração...
Entrada do Paraguai-Mirim, Waypoints latitude Sul 18º
38`5577e longitude W57º 37`005``.
Incrível! A entrada do Paraguai-Mirim está a
1 minuto de grau da Fazenda Sucuri, de qualquer ponto que
dela se parta! Só para esclarecer, 1 minuto de grau
corresponde a uma milha náutica, ou seja, 1820m.
Quanto ao Paraguai-mirim... Bem, essa é uma outra história;
melhor continuar a viajem senão nunca chegaremos ao
destino.
Passamos por todos esses pontos exatamente às 12:00hs,
o que significa estávamos navegando há, aproximadamente,
7 horas e percorrido 137km.
Tínhamos ainda muito rio pela frente, até chegar
ao próximo porto. Com um tímido sol despontando
por entre as nuvens e a temperatura continua nossa viagem.
REGIÃO DO BONFIM.
Ao longe já avistávamos a serraria do Bonfim,
que mais parece um mar de morros brotando da água.
A fotografia do satélite é da região
considerada; o traçado azul é o Rio Paraguai.
Mato grande é um corixo maravilhoso, com matas ciliares
exuberantes, e muito bom para pesca.
O corixo do Mata Cachorro é muito bonito e imenso.
Suas águas vêm, praticamente, drenadas de centenas
de quilômetros da região do Rio São Lourenço,
por onde logo iremos passar.
Aí estamos, na região chamada Coqueiro, com
o porto à direita.
Porto Coqueiro, Waypoints latitude Sul 18º 31`0132`e
longitude W57º 7295``.
Pelo deslocamento da latitude do Mirim para o Coqueiro, pode-se
notar que foi uma grande distância, mais de 15km, entre
o porto anterior e este, isto em linha reta.
Nestas fotografias estamos chegando na região do Chané.
O ambiente estava mudando paulatinamente. A correnteza estava
mais forte. No céu apareceram bandos de gaivotas, chamadas
Taiamãs.
Porto Chané, Waypoints latitude Sul 18º 14`7998``
e longitude W57º 37`9414``.
Nesta hora, todos já estavam com a fome vencida e muito
viajada. O Patrick e o cozinheiro haviam preparado um almoço
muito especial: Medalhão de filé mignon, que
comemos com muito gosto. Comendo, bebericando e jogando conversa
fora, tudo dentro da moldura extraordinária que é
o Pantanal, não precisa nada melhor; é
só deixar a máquina andar. Depois do fausto
almoço todos foram dormir, menos eu, que era auxiliar
e co-piloto
do Chico.
A primeira fotografia é dos Novos Dourados e a segunda
é da Serra do Amolar.
Novos Dourados, Waypoints latitude Sul 18º08`8587e longitude
W57º 47`4160``. Amolar, Waypoints latitude Sul 18º
04`0570e longitude W57º 48`7893``. Ao final da tarde,
depois de um longo sono, fomos para a cobertura arranjar a
tralha e vermos a paisagem, que nesta região é
maravilhosa.
Estamos discutindo sobre a pescaria. A tarde estava diferente,
ao longo do percurso havia momentos que o tempo ficava nebuloso,
momentos seguintes, como o anterior, o sol aparecia entre
as nuvens, criando inesquecíveis paisagens. Na segunda
fotografia estamos chegando na boca do Amolar. O Rio Paraguai
se estreita, espremido entre as pedras. É um lugar
muito diferente na grande região do Pantanal.
Eu e Machadinho na passagem pela serraria do Amolar. Eram
17:00h, estávamos viajando deste às 6:00h, portanto
com 11horas de viagem. Ainda tínhamos 2 horas de viagem
para sairmos do Mato Grosso do Sul e entramos no Rio São
Lourenço, que é a divisa entre os dois estados.
Estamos apreciando a passagem pelo porto chamado Amolar.
Existem numerosas histórias sobre este lugar. Algumas
dizem respeito à sua fundação pelos negros
escravos, que fugiram das minas de ouro, mas acabaram sendo
mortos pelos índios Guatós, que habitavam toda
a região. Segundo a lenda, as almas dos velhos negros
zumbis ainda moram por ali e em certos momentos, em noites
de temporais e relâmpagos, eles podem ser vistos sobre
as pedras do Amolar, nus, com seus olhos verdes e seus dentes
brancos brilhando, mostrando um sorriso mortal de escárnio...Mas
isso já é uma outra história!
Estamos no momento desta foto, a poucos quilômetros
da divisa de Mato Grosso e da barra do Rio São Lourenço.
Ao fundo vemos o Morro do Pajé. Para muitos representa
um índio com as mãos unidas, cabelo longo, meditando
e guardando as tribos dos Guatós, que viviam espalhadas
por toda a região.
O livro “A Herdeira”, faz uma profunda referência a
esses índios que ainda vivem na morraria, além
da Serra do
Amolar.
Esta é uma outra vista do Amolar. Já passamos,
neste porto, tendo o velho comandante Catarim ao timão
do Cabexi1, era meia noite, noite de lua cheia, um cenário
de raríssima beleza.
Somente a fumaça negra do grande chaminé do
velho motor a óleo cru do barco manchava o clarão
da lua.
Ficamos no tombadilho em silêncio, esperando ver os
negrinhos do Amolar: não os vimos, mas guardamos para
sempre a emoção daqueles momentos inesquecíveis.
Em outra ocasião, o Machadinho e um amigo viram, nesta
morraria do Amolar, um OVNI (disco voador).
Não sei porque, mas esta região é muito
mítica.
Ao pé do Morro do Amolar tem uma baía coberta
de vitórias-régias, típicas da Amazônia.Quando
vimos isso pela primeira vez, há vinte anos, foi muito
emocionante. Era a Amazônia no Pantanal?
Depois que passamos o Amolar o Chico chegou para mim e disse:
-- Vamos ter que ancorar antes do São Lourenço,
pois temos que comprar iscas (caranguejos) amanhã,
e também não gostaria de navegar à noite
no rio São Lourenço, pois descem muitos paus.
Eu e o Du, já estragamos o motor de bombordo em um
acidente com uma tora. O que o senhor acha?
-- Bem, Chicão, quando envolve segurança, eu
não discuto. Pode ancorar o barco.
Ele deu um de seus raros sorrisos, e partiu em busca de um
belíssimo lugar para jantarmos e passar a noite.Dormimos
a 2 km da divisa do Mato Grosso do Sul com o Mato Grosso,
ou seja, o Rio São Lourenço. Em alguns Atlas,
ele é chamado de rio Cuiabá, para mim, é
São Lourenço mesmo. Rio Cuiabá é
até o Porto Jofre, como veremos no outro capítulo
da viagem.
Este foi o último trecho de nossa
viagem no sábado, até o Pouso do Shekinah onde
pernoitamos. Esta fotografia do satélite mostra um
trecho de aproximadamente 80Km do Rio Paraguai. É um
dos lugares mais lindos do Pantanal do Mato Grosso do Sul.
Nos últimos 25 anos, pescamos em muitos desses lugares
por inúmeras vezes.
Porto São Pedro, ou São Francisco, não
tenho certeza. Ele é muito importante para todos os
ribeirinhos que moram ao longo da Baía de São
Francisco. Eu, Chico e Turco já pegamos muitos tucunarés
e caranhas nos meandros desta baía.
Aí está o Turco, em um dos
inúmeros meandros da Baía de São Francisco,
pegando um filhote de tucunaré, foi solto em seguida.
A foto é para mostrar que, ao longe naquelas árvores,
passa o majestoso Rio Paraguai, como mostra a fotografia do
satélite.
A segunda foto mostra uma família de uma fazenda da
região, com uma grande embarcação, que
tinham ido ao porto buscar sal para o gado e demais mantimentos
necessários à sobrevivência na fazenda,
que fica nos distantes meandros da grande Baía de São
Francisco. Segundo o Chico, eles podem demorar até
três dias nesta viagem ao “varejão”.
Rio do João, na realidade, é um corixo muito
bonito, como não poderia deixar de ser. Já pesquei
algumas vezes nele, é um dos paradeiros das grandes
caranhas.
Bem, gostaria de comentar cada um desses portos e pontos de
pesca, mas vamos deixar para outras ocasiões, que espero
que não faltem, pois pretendemos continuar voltando
sempre a estas plagas maravilhosas desse lindo Pantanal.
A tarde caía maravilhosa, em uma curva
do grande rio, o sol se pondo atrás da piuva parecia
nos convidar para um ancoradouro de sonho. À medida
que o Shekinah foi se aproximando, os quadros de cores, luzes
e sombras se alternavam, era um caleidoscópio vivo
da natureza pantaneira. Para quem sabe ver, a natureza é,
indiscutivelmente, a criadora de todas as artes. Ancoramos
tranqüilos. O jantar, como sempre, foi extraordinário
e a prosa boa até dar hora de irmos para cama.
Nesses lugares a presença Dele está em todos
os recantos.
Aqui termino a primeira fase de nossa pescaria, por sinal:
A melhor de todos os tempos.
Apêndice.
Para os amantes de navegação.
A seguir mostrarei o traçado da Viagem feito pelo GPS.
Os lugares que o equipamento mostra são corretos, em
sua latitude e longitude, contudo o caminho em si, ou seja,
por onde exatamente o Shekinah passou, que chamamos de “Track”
são milhares de pontos que o aparelho grava. Assim,
quando pedimos um caminho longo como esse o GPS nos dá
um resumo dos pontos marcados, pois sua memória é
para apenas 2.000 pontos e 500 Wayponts.
Desta maneira, devemos olhar as fotografias da EMBRAPA e imaginar
quantas voltas dá o Rio Paraguai.
Mapa 1, do pouso da
primeira noite até à Região do Chané.
Mapa número
2 do Chané à Barra do São Lourenço.
No segundo capítulo,
partiremos da Barra do São Lourenço até
o Rio Piquiri.