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VIAGEM À SERRA DA CANASTRA: 13-11-2010.
O destino São Roque de Minas.
Ficamos no Hotel CHAPADÃO DA CANASTRA.
Sra. Renilda Soares Dupin. Rua Benjamin Constan, 10. DEP: 37928-000
Telefones: (37) 3433 1267; (37) 3433 1440

Introdução: Há tempos que não vou fazer trilhas. Passei por momentos difíceis, e meu entusiasmo desapareceu. Não via sentido em nada do que antes eram meus prediletos passa tempos. Nosso coração e mente, dominam nossos prazeres. O tempo foi se arrastando, durante estes 3 anos, lentamente, como uma tora de jequitibá, puxada por uma junta de bois cansados. O pior foram os intermináveis fins de semana, de filmes horríveis, e chamados distantes de meu sentimento, que ecoavam sempre estranhos ao meu coração. OH! Tempo! Sentimentos confusos, surdas revoltas comigo mesmo, por saber, que tudo estava dentro de mim. Acusações surdas, mudas, silenciosas, como uma escuridão gelada invadindo a minha alma.
Desprezo velados, um parente muito rico, que muito ajudei, paguei até o hospital para a sua cirurgia, prometeu ajuda e sumiu, nunca mais o vi, que vergonha! Corre de mim como o diabo da cruz. Não havia necessidade disto. Um dia, achei um verdadeiro amigo, Dr. José Roberto, que sem eu pedir ajudou, em uma hora dificílima que estava atravessando. Como é bom ter um amigo, meu Deus! Obrigado, Senhor! A família começou a ajudar, aos poucos fui saindo da depressão, a clínica melhorando, as coisas se encaminhando lentamente.
Aí, senti condições, e aceitei o convite para irmos para a Serra da Canastra.
Foi com esforço que fui para a Serra da Canastra com os amigos, o corpo queria ir, mas a mente não se achava preparada. Arrastado pela força de vontade, lá fui eu, sozinho, meditando pelas curvas estradas de Minas Gerais. Praticamente quando dei por mim, já estava na ponte do rio São Francisco. Deu uma abertura em minha mente e comecei a pensar na trilha.
Bem ao longe, avistei os abruptos paredões da Serra da Canastra, o horizonte se descortinou à minha frente, e a nuvem negra que me acompanhava, por todos estes anos, se derreteu em chuvas de esperança.
As Trilhas. Fazer trilhas é conhecer lugares, é abrir espaços, é se emocionar com o simples e estar em lugar nenhum. As trilhas não têm começo e não têm fim. Não nos importa o começo, não nos preocupa o fim, o que importa é o trajeto.
Os antigos habitantes do Brasil antes de seu descobrimento, tinham numerosas trilhas importantes, os índios Tupinambás, os Tamoios, e os Guaranis, possuíam trilhas de caça. Mas sonhavam, claramente, com uma trilha imaginária e infinda, extraordinária, que os levariam para oeste, para o interior à fora, até os Andes, onde existiria uma montanha imensa de puro ouro. Este sonho, entre outros, foram transmitidos aos Bandeirantes e Bandeiras, que em longas e penosas incursões pelas trilhas indígenas, conquistaram o Sertão brasileiro, romperam o Tratado das Tordesilhas, em busca do El Dourado e da Lagoa Verde repleta de Esmeraldas. Criando o Brasil que temos hoje. As trilhas:

Assim começam as trilhas. Estou aí, sozinho, no ATV saindo de São Roque de Minas, para subir a Serra da Canastra. O vento carregava as nuvens velozmente, quando elas trombavam com a serra, subiam, condensavam, e se acumulavam, no espaço, em negros vórtices ameaçadores. É o efeito orográfico, formando células de grande instabilidade meteorológica. Assim, os temporais se formavam. Os relâmpagos cruzavam os céus em seus zigue-zagues desconexos, o ar explodido criavam sons, que percorriam o espaço 330m/s, estes inundavam todo o espaço, como bombas potentes explodindo, em ecos retumbantes, nas furnas da serraria. O vento uivava pelas fendas de meu capacete, o quadricíclo dançava pela força dos ventos e pelas irregularidades erodidas da trilha. Pura emoção, doses maciças de adrenalina no sangue, desentupindo velhas veias e irrigando a mente. Emoção, aventura e prazer, de estar ali vivo, para presenciar tudo isto.

A esquerda da estrada está a entrada da trilha para o alto da serra, e a Portaria número 2 da Reserva. A chuva torrencial, formava uma cortina antes da serra, impedindo sua visualização, escondendo seus paredões abruptos. De onde estou até à serra são 9km.

A primeira fotografia mostra os contrafortes da serra, em um vale que contorna a reserva, em direção a noroeste. Na segunda fotografia uma visão ao longe de São Roque Minas.

Aí estou na portaria do Parque Nacional da Serra da Canastra. Lugar que por 15 anos passei com meu quadricíclo, sem nenhum problema. Mas agora não pude entrar, pois o governo baixou uma norma, que somente veículos com placa, licença, podem entrar no Parque. Como o meu é considerado um trator, não pode emplacar e não posso entrar. Coisas do Brasil, para pegarem mais impostos, pois todos os veículos fora de estrada que por lá passavam, não têm mesmo placa nem licenciamento, por esse motivo, todos têm que buscar novas trilhas. E, não podem conhecer a Serra da Canastra, assim como a nascente do grande Rio São Francisco. De recordação ficam as fotografias, dos tempos passados.

Triste por não poder entrar no Parque, iniciei a descida da serra. A temporal havia passado, nuvens carregadas ainda atapetava o céu com seus baixos estrados cúmulos congestos. O vento de Sudeste sobrava em rajadas intermitentes, como tomando fôlego para novas investidas. Alguns automóveis sem tração e motoristas sem experiência claudicando e sofrendo, tentavam subir a serra. Parado fiquei vendo a trilha ao longe, serpenteando, pelas encostas abruptas da serra. Lembrei com muito clareza, a primeira vez que desci esta encosta íngreme e tortuosa da Serra, em direção a São Roque de Minas. Havíamos vindo por dentro, isto é, de Sacramento, pela Portaria 1. Eu meu irmão Geraldo com sua possante Pampa, carregando duas motos; eu de Silverado puxando o quadricíclo, com duas motos em cima. O Geraldo foi mais a frente com sua Pampa, descendo seguro, pelas erosões, buracos e curvas em rampas acentuadas, parei para filmar o espetáculo. Uma cena linda, uma tarde ensolarada, o sol poente, projetava a ciclópica sombra da Serra por todo o vale, mais a frente a cidade de São Rogue, ainda iluminada, se destacava na paisagem, tudo era novidade para mim. Neste momento, um balanço muito forte da Pampa, fez com as cordas que seguravam as motos rompesse, e todas caíram, umas sobre as outras, um tumulto. Do alto vi meu irmão Geraldo, sair da caminhonete, gesticulando e provavelmente xingando, a incompetência do Fábio, Marcelo, Bigui entre outros, por não saberem amarrar as motos direito. Déssemos mais rapto para ajudar, arranjar as motos. Chegando lá escutei meu irmão dizer, já rindo, ainda bem seus F.P., que a minha moto não estragou senão... Cenas do passado, que não se apagam nunca de nossa mente.

Voltei para São Roque, em busca de novas trilhas. Interessante que na cidade 9Km do pé da Serra da Canastra, a chuva ainda não havia chegado. Com isso o efeito orográfico, exercido pela serra ficou mais que evidente. A natureza nos dá lições valiosas, mas o homem as têm ignorado, com isso a Terra, torna cada dia mais triste e agressiva para com todos.

Voltei ao Hotel, Chapadão da Canastra e para grande surpresa os companheiros: Du Mendes e Jung estavam chegando de Ribeirão Preto, prontos para o embate nas trilhas da Canastra. É sempre prazeroso, nestes momentos de aventura, quando os companheiros, combinados, chegam. Pois, em muitas ocasiões, houve intercursos, os impedem de chegarem, trazendo preocupações a todos. Abastecimento das máquinas.

A primeira fotografia é do machão da caravana com sua roupa de trilha cor de rosa, que belo heim? Na segunda fotografia, estamos no posto de combustível, abastecendo para a primeira trilha, Jun, Du Mendes e Sergio Lima. Nessa hora estamos limpos, com uma certa ansiosidade, pois iríamos para uma trilha que ainda não conhecíamos.

A fotografia anterior não estava bonita, precisou entrar o Marcelão com sua indumentária cor de rosa para enfeitar a fotografia. Uma nova trilha, saindo em direção norte da cidade. O início da estrada para se atingir a trilha, é a estrada que segue em direção a Bambuí.

São indescritíveis os cenários da região da Canastra. Este é o Vale do Rio do Peixe, um riacho de límpidas águas antes de passar pela cidade de São Roque. Parei na ponte do rio e fiquei impressionado, com os cardumes de curimbatás que subiam a esperta correnteza do rio. Estamos entrando na época da piracema, quando os peixes se reproduzem. O cardume, oferecia uma agitação frenética, espalhando águas em saltos de exibições às fêmeas. Como sempre falo, é preciso conhecer a natureza, entende-la, para apreciarmos o pulsar da vida nela existente. Naquele riacho modesto, a reprodução se manifestava exuberante, magnífica. Eu ousaria perguntar? Quem viu? Quem percebeu o fenômeno? Creio que ninguém que eu tenha visto, nas 4 vezes que fui até a ponte. As motos passaram roncando, jogando barro e pedras para todo os lados. Os carros se adiantavam rápidos, pois passava apenas um de cada vez, quem chegasse primeiro passava. E o mais triste para a natureza das límpidas águas, logo à frente do rio, todo o esgoto da cidade de São Roque, sem nenhum tratamento, é lançado no riacho. Bem amigos, deixemos a piracema, deixemos o descaso dos homens e no futuro veremos onde tudo isso irá nos levar! Vamos à trilha, é o que viemos fazer. Nota: a ponte era muito estreita, movimentada, o dia escuro, não deu de maneira nenhuma para fotografar os cardumes de curimbatás em sua dança de acasalamento. Logo a frente na trilha...fotografei este gavião.

Este é uma bela espécime de um gavião Caracará. Habilidoso caçador. Está sempre a espreita, de um roedor, um lagarto, uma cobra ou outra presa qualquer. Já tive oportunidade, na Serra do Cipó de filmar, um gavião deste pegando uma cobra no meio da trilha. Ele teve habilidade de pegá-la pela ponta do rabo, de tal maneira que, quando levantou vôo, por mais que a cobra tentasse, não conseguia picá-lo, para se livrar, de ser o almoço suculento da ave de rapina. O gavião foi subindo, dando voltas, em um frenético bater de asas, quando estava bem alto soltou a cobra, que se esborrachou no chão. Aí ele desceu e fez sua refeição tranqüilamente, como um bom caçador que é.

Subi quilômetros de encostas íngremes, até consegui chegar mais perto, que a trilha permitia, da nascente do Rio do Peixe, aquele que me referi, passando por São Roque. Esperei algum tempo para ver se passava algum peixe, mas nada! Aí somente passei o tempo, ouvindo com o fundo do ruído branco da cachoeira, o melodioso canto de um sabiá laranjeira, que se esforçava ao máximo na melodia, chamando uma fêmea para seu ninho.

Depois de uns 4km cheguei a um atoleiro, onde um carro estava encravado. O quadricíclo passou sem problemas, como mostra o rastro no barro. No fundo destes vales, por onde correm os riachos e rios, que abastecem o grande São Francisco, forma-se uma terra de aluvião, rica em argila, quando chove, é o terror dos motoqueiros entre outros, pois o terreno fica liso como um sabão. Assisti muitos tombos de companheiros nessas circunstâncias.

Finalmente, achei a ponte de Ferro, tão falada pela dona do hotel. Um lugar muito marcante, primeiro pela qualidade da ponte, o que não é comum por aquelas paragens, e segundo, pela fauna e flora da região. Não consegui fotografar nada, mas ouvi, muitos pássaros: gralhas, maritacas; ao longe um inhambu chororó cantou triste pelas furnas da mata galeria, papagaios passaram barulhentos e sempre aos pares, canários da terra aos bandos, um casal quero-quero travavam uma briga feroz com um gavião caracará, que provavelmente queria jantar seus filhotes. Sentado na ATV, passei tempos indefinidos ouvindo e sentindo toda a exuberância e a beleza da mãe natureza, neste recanto remoto, e esquecido, do imenso Complexo da Canastra.

Fiquei olhando a mansidão da água correndo, pensando em seu longo e atribulado caminhar até o mar, no distante nordeste do Brasil, a mais de 2.500Km de distância.. A água do rio é escura, pela decomposição das folhas da exuberante mata galeria, que o acompanha o curso da água, pelos meandros da serra à fora. A montante desta ponte de ferro, tem uma bonita corredeira, a jusante, a água corria mansa, como descansando do agito por onde havia passado.

Esta é a maravilhosa visão da corredeira a montante da Ponte de Ferro. Realmente ela atesta o que eu disse anteriormente, uma exuberante mata galeria, um sinuoso curso de águas que acaba sempre em curvas sinuosas, ladeadas pelas pedras da montanha. Se não fosse as inúmeras pedras da Serra os rios, da região, não teriam tantos meandros e corredeiras. O agitar das águas a oxigena, atraindo os peixes para a piracema. É o pulsar da vida, que se renova.

Solidão! Seria esta a imagem deste quadricíclo, Bayou, sobre a Ponte de Ferro? Companheiro, de 15 anos de trilhas, nunca, nunca me deixou “na mão”. Ou a fotografia seria de: Companheiro, de inúmeras trilhas, inúmeros lugares deste rincões distantes do Brasil: Transpantaneira, Esquinão, Trilha do Ouro, Serra do Cipó, Praia do Castelo até o Uruguai, Vale do Jequitinhonha, Chapada Dos Guimarães e tantos outros. Não importa, guardarei para sempre esta imagem. Eu estava sozinho, ouvindo a natureza, muitas trilhas pela frente, somente com o GPS eu sabia onde estava naquele momento. Momentos inesquecíveis de nossa efêmera existência, nestes perdidos grotões, onde ainda ecoam as vozes da natureza, sem se misturarem aos ruídos da civilização.

O quadricíclo, não queria voltar. Senti claramente, que queríamos ir para frente. Seguir a trilha. A lama acumulava nas baixadas, a chuva dava tréguas, mas logo voltava mansa, mas persistente, é o ideal para trilhar sem destino, cada rampa que eu subia, um novo vale se descortinava à frente, bifurcações numerosas, a escolha era aleatória, mas sempre buscando as fraldas da Serra da Canastra. Caminhos sem fim! Somente dando um “trak bak” no GPS para voltarmos ao ponto de partida, senão era ficar perdido na serra como tantos amigos já ficaram. Havia percorrido 41Km de trilhas, até o momento. Quilômetros à frente um visão diferente:

Um quadro surrealista na natureza. Devido a chuva, os carniceiros não se moviam, estavam estáticos vigiando um tamanduá morto, dentro de uma furna. O pobre animal morto, com certeza havia sofrido algum atropelamento e se arrastando para o buraco, onde morreu. Ainda não havia mau cheiro. Incrível a natureza, a morte a espreita, a natureza estática, a vida e morte, se sucedem. Estes são os contrastes da existência!

Depois dos 50Km, minha trilha terminou neste imenso muro de pedra. Um muro de pedras soltas, colocadas criteriosamente umas sobre as outras, sem argamassa, somente no encaixe, e olhe bem este murro tem no mínimo 130 anos, foi feito pelos escravos, no século retrasado, é incrível a engenhosidade do homem. Havia muitas árvores, para fazerem uma cerca, uma paliçada, será que partiram para a colocação dificílima das pedras sobre pedras, para preservar a mata? E depois os homens modernos as derrubam para fazer carvão, cercas que os cupins, em poucos anos destroem, e o carvão para ser queimado nos fornos de Lagoa Dourada, ao norte de Belo Horizonte? Não sei dizer!

A seta mostra o capricho dos antanhos construtores do muro, ele termina praticamente dentro da água, com uma base muito sólida, de tal maneira que passado este século e décadas, ele (o muro) não sofreu nenhuma erosão. Está impávido em sua postura pétrea. A paisagem do fim desta trilha é indescritível, árvores de lei centenárias margeiam o rio, águas límpidas, por onde cardumes de lambaris como sombras coloridas navegam estáticos pela suave correnteza, é a harmonia da natureza preservada.

Pedras sobre pedras. Imagino há mais de 130 anos, homens colhendo estas pedras pelos arredores da serra, colocando-as em carros de bois, descarregando-as em lugares estratégicos. Então, os mestres as escolhiam, com perspicácia para que coubessem equilibradas nos lugares certos. E aí permaneceram estáticas, firmes, dividindo pastagens e propriedades por todos estes anos. Estáticas no tempo, firmes para sempre, até que uma máquina, um grande trator as derrubem abrindo campos, para pastagens, para sojas e para poder ajudar os proprietários, a sobreviverem, nesta selva que é nossa vida atualmente. Não podemos culpa-los, pois eu mesmo, em minha propriedade, não tive dinheiro, para manter algumas extraordinárias construções, lindas e centenárias. Na região da Canastra posso calcular existir muito mais de 1000Km de muros de pedras como este, que eu conheço. Contudo existem, Currais de Pedra, centenas de outros, e outros Currais de Pedra, por toda a região. Isto tudo foi construído por escravos, e os proprietários eram ricos pelos diamantes tirados de toda a região do Espinhaço da Minas Gerais. De Tiradentes, Ouro Preto até Diamantina no Vale do Jequitinhonha.

“Estou em cima do Muro”, não no sentido figurado mas na exata expressão. Pode-se observar a altura que eram essas construções. Heróis de tempos passados, que o presente não se lembra mais! Os amigos chegaram como eu disse. Voltei para São Roque de Minas e saímos felizes para novas e excitantes aventuras.

Aí o Du Mendes, grande companheiro de trilhas. Estamos na região leste de São Roque de Minas. Contornando a Canastra, íamos em direção a cachoeira do SERRADÃO.

A trilha estava uma beleza neste ponto, paramos para vermos a cachoeira, Marcelão fez pose, pois estava voando pela trilha com sua potente moto.

Por falar em fazer pose, eu quis fazer a minha também. São 15 anos freqüentando as trilhas da Canastra, e saibam que eu, assim como os companheiros, nunca havíamos percorrido esta trilha. Tenho 70 anos, creio que partirei “desta” sem conhecer todas as trilhas da imensa região da Reserva da Canastra.

Finalmente! Bem ao longe, despencando da serra, a cachoeira de Cerradão, um cenário maravilhoso. Inesquecível. Vendo ao longe, esta maravilhosa queda d`água, podemos sentir a grandeza dos espaços, a imensidão dos horizontes, e recuperar no coração a nossa existência, tão efêmera. A quantos milhares de anos esta água faz a erosão da serra, cavando um leito na rocha, como uma cicatriz de tempos imemoráveis.

Correndo trilhas, chegamos mais perto. Que magnífica cena! Agora podemos ver as rochas expostas. São paredões abruptos de rochas metamórficas areníticas, fendidas pelo tempo, pelas intempéries que passaram, nestes 600.000 anos de sua formação. Estes desdobramentos do complexo da Canastra, provavelmente, ocorreram pelos movimentos tectônicos, ocorridos durante a migração da placa da América do Sul, ao se desgarrar da placa Africana, a 650.000 milhões de anos, segundo os geólogos. Outro aspecto característico destes movimentos tectônicos, é a longa Serra do Espinhaço, que se percorre o centro do Estado de Minas Gerais, no sentido norte ao sul do estado, inicia na Serra da Mantiqueira, que separa o estado de São Paulo de Minas Gerais. Caminhando para o norte até a Bahia. Termina praticamente na Chapada da Diamantina. A cachoeira do Cerradão, como descrever este véu de límpidas águas que enfeita a paisagem, como um traço, seguro e indiscutível da presença de Deus, nos confins da Terra.

Andamos mais uns quilômetros na trilha, mas lá ao longe, a cachoeira do Cerradão, marcava sua presença absoluta no horizonte. Todos queríamos eternizar aquela maravilhosa imagem. Estou eu e depois o Marcelo fazendo pose. Para que estes momentos se cristalize cada vez mais em nossa mente. Contudo quem roubou a cena, foi o doutor Du Mendes, com seu ar de artista, que procurou um muito melhor ângulo, para ser fotografado. Quer mandar a fotografia para a mãe. Começou chover, coloquei minha indumentária, aí sim perdi toda minha humilde categoria. Ficando apenas mais uma recordação. Mudança de rumo. Voltamos correndo pela trilha à fora. Com a chuva que caia mansa, tivemos oportunidade, e presenciamos algumas derrapagens cinematográficas, seguidas de modestos tombos. Como eu disse, um pouco de chuva, e a terra, com piçarra, vira um sabão, de lisa. Voltamos até São Roque de Minas, e pegamos uma outra trilha, que percorria a margem esquerda do Rio do Peixe. Paramos em um lugar, que segundo os campeões seria fácil de ser passado, contudo, acharam melhor não enfrentar. Olharam para lá e para cá, o Marcelo falou ao Jun, vai que é mole! Doutor Du Mendes analisou a correnteza e fomos ficando por ali mesmo. Foi quando na encosta do rio, o Marcelo achou de subir esse barranco. Aí começou o parque de diversão dos meninos. Na primeira tentativa não foi, mais adrenalina em todos. Trilheiros gosta de desafio. Não consegui captar o exato momento que este ficou “nervosa”, não subiu, caiu e depois jogou com raiva a moto no chão! Bem, foi um belo momento para encerrarmos o dia e as trilhas. Com esforço e com incentivo da platéia, levanta a máquina, mas o esforço é muito, ela teima em cair de novo, é a luta do trilheiro macho! As imagens diz tudo. Depois todos conquistaram a rampa, subiram, as vezes claudicantes, as vezes diretos, mas ficaram contentes. E com isso encerramos nossa aventura na região de São Roque de Minas. No outro dia, caia uma chuvinha deliciosa, mas eu tinha que ir embora. Havia carregado o ATV, tudo pronto, peguei a estrada, com o coração leve e feliz por ter feito um delicioso passeio.