Na realidade, planejar uma viagem esta não
é fácil, principalmente porque, hoje em dia,
é raro encontramos amigos para o empreendimento. Eles
têm que ser autênticos, companheiros e os objetivos
têm que ser comuns.
A viagem iniciou-se após uma “forçada” na amizade
que dei no José Milton, para que ele, profundo conhecedor
das Minas Gerais, nos recebesse lá. Imaginamos visitar
Diamantina, Biri-Biri, Conceição do Mato Dentro,
São Gonçalo do Rio das Pedras, Reserva do Cipó...mas
nada se encaixava num bom roteiro.
Finalmente ainda em Ribeirão Preto, chegamos a um acordo:
encontrarmo-nos em Tiradentes e fazermos a Trilha do Ouro
até a localidade de Macacos.
Componentes da caravana: Sérgio Lima, Marcelo e Cristina,
Elias e Dani e Fernandão (meu sobrinho); Dr. José
Merlie Dani, que encontraríamos em Guaxupé e
José Milton, que, vindo de Belo Horizonte, nos alcançaria
em Tiradentes.
Roteiro idealizado e realizado.
Cidades Históricas de Minas Gerais, roteiro até
o Parque Natural do Caraça. Seremos guiados pelo grande
José Milton, com seu vastíssimo conhecimento
das Minas Gerais.
Fizemos o roteiro inverso ao do mapa da fotografia: Primeiramente
Tiradentes, São João Del Rei, Lagoa Dourada,
Ouro Branco, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Cocaes, Parque
e Mosteiro do Caraça e São Sebastião
das Águas Claras (Macacos)
É um roteiro de volta ao passado histórico,
de incrível beleza. É de uma visão extraordinária
das Alterosas.
Viajar nestas rotas é ter coragem; viajar é
saber ver caminhos abertos há tempos passados, com
suor e às vezes sangue; é imaginar homens e
animais cansados e famintos, subindo Serras intermináveis
rumo a um destino desconhecido. Viajar é imaginar a
era dos tempos históricos e pré-históricos,
descritos claramente no relevo, nas rochas erodidas pelo vento,
pela chuva e destroçadas pelo homem.
É contemplar, nas inclinações harmônicas
das Serras, as forças telúricas que ali atuaram
em um passado remoto. Viajar, enfim, é manter os olhos
atentos e a mente aberta para enxergar imagens do presente
escritas no passado.
Quando saímos de Ribeirão Preto, maior polo
sucroalcooleiro do mundo, buscávamos estas imagens,
a beleza em sua mais pura essência, uma harmonia entre
a arte e a natureza, uma comunhão entre homem e Deus.
Se não fossem as forças divinas, irmanadas de
Deus, qual impulso poderia levar homens maltrapilhos, como
um artista aleijado, nos longínquos rincões
das Alterosas a construírem obras maravilhosas como
esta, e centenas, milhares de outras, tão lindas, e
que hoje, pilhadas pelos ladrões, ornamentam castelos
na Europa, mansões no Brasil e em outros países
por esse mundo afora? Mas, um cenário como este, tendo
a Serra de São José ao fundo, ninguém
poderia pilhar, jamais!
A saída de Ribeirão Preto foi um pouco retardada
pelo Dr. Marcelo, que teve dificuldade na adaptação
de uma peça protética em uma paciente...aí...é
esperar pelo companheiro! Esperamos com calma e com calma
saímos, tendo que voltar lá da DABI, pois me
esqueci da máquina Mvc...Mais um pouco de atraso!
Bem, não preciso dizer que no ponto de encontro, em
Guaxupé, Dr. José já nos esperava...
Após os cumprimentos, “pé na estrada”. No início
da Serra de Muzambinho começou uma chuva torrencial,
que nos atrasou ainda mais. Isso sem considerar as precárias
condições das estradas de Minas que, antes da
rodovia Fernão Dias, “ é brincadeira”, no repetitivo
dizer do Fernandão.
Alfenas, com seus 66.000 habitantes, dos quais 10% são
estudantes, não tinha um posto de gasolina sequer na
rodovia para uma parada técnica, nem no trevo e nem
por perto.
Já na pequena cidade de Paraguaçu, encontramos
um posto modesto, onde comemos um saboroso e oleoso pastel.
Chovia e chovia, a estrada era longa, mas quando não
se tem pressa não existe distância. É
como dizia Adhemar de Barros: “Fé em Deus e pé
na tábua”.
Parada do Pastel, levamos seis para o José Milton,
mas já o encontramos com muitos antepastos e acepipes;
além disso, ele não come pastel viajado. Assim,
no dia seguinte, Marcelão&Cia não perdoaram
os pastéis andarilhos...
Depois de passamos por Varginha: 108.284 hab., único
porto seco do sul de Minas, o que, a bem da verdade, não
sei o que significa. A cidade fica a meio caminho entre Belo
Horizonte e S.Paulo.
É uma bela cidade, passamos por lá sem nenhum
problema. Logo pegamos a pista dupla da Fernão Dias,
mas, com chuva e sem sinalização, não
dá para andar rápido, é preciso ter cautela.
Passamos por Lavras é uma cidade de 78.000 habitantes,
mas sem nenhuma sinalização na estrada, a não
ser placas de propaganda como: “ Comida caseira a 1Km”; “
Em Varginha, Lanches E.T.”; em Lavras, Hotel Sossego por 25,00”;
porém, uma delas era tão peculiar que não
poderia ser esquecida: “ Comida Por Peso, Sem Balança,
a 2,50”.
Quando estamos viajando, sem preocupações e
com um bom amigo esperando no destino, tudo é motivo
de alegria, euforia e risos.
Estávamos nos comunicando por rádio e no início,
falamos para os companheiros da retaguarda sobre os buracos,
mas, da parte deles, só risadas. Por que? Segundo eles,
era só não passar por onde eu estava passando,
pois de acordo com suas más línguas, eu não
perdoava nenhum buraco da estrada, passava dentro de todos!
Mui amigos!
Assim, passamos “de través” em Lavras, rumo a Tiradentes.
No trajeto, ainda encontramos alguns pequenos lugarejos, depois,
São João Del Rei e, 14Km. À frente, Tiradentes.
O Grande José Milton, com sua figura inconfundível
e impoluta, nos esperava na porta do restaurante. Nós,
com a fome vencida e muito viajada, comemos com muito gosto
a saborosa comida oferecida, e em seguida fomos para o hotel.
Pousada Candonga da Serra: Segundo Aurélio, temos para
essa palavra: 1. Lisonja, afagos, mimos. 2. Carinho fingido;
adulação. 3. Intriga, mexerico. 4. Bras. Bem-querer,
benzinho, amor.
Esta é a pousada Candonga da Serra, muito boa por
sinal. Fica isolada, situada na estrada que liga Tiradentes
a São João Del Rei. Recentemente, acabaram de
construir uma piscina de água quente, que, quando aquecida
de verdade, deve ficar muito bom para nadar, pois a edificaram
em um balneário muito chique!. Aí estão
as máquinas: Frontier (2) JoséMilto&Dr.
José, L-200 Marcelão e Ranger Elias. É
muito bom andar com amigos de bom gosto.
Nossa Primeira visita foi a TIRADENTES.
A cidade tem aproximadamente 5700 habitantes e foi fundada
por volta de 1702, quando os paulistas descobriram ouro nas
encostas da Serra de São José. Foi importante
centro produtor de ouro por quase um século.
A cidade se diferencia das demais pela presença de
cavalos e charretes nas ruas, e pela Serra de São José.
O centro histórico é pequeno e deve ser percorrido
a pé, pois é calçado com pedras irregulares.
Tiradentes é a menor, a mais sossegada e mais bem preservada
de todas as cidades históricas do roteiro. Ao chegar,
o visitante tem a sensação de que o tempo parou,
principalmente se desembarcar de Maria Fumaça e usar
uma charrete como meio de transporte até o largo das
Forras. Há várias opções de pousadas,
instaladas em casarões históricos, e restaurantes
de diversas especialidades. A principal atração
é a matriz de S. Antônio e a melhor vista da
cidade é do alto do morro de São Francisco,
que fica bem à frente da igreja como pode ser visto
na fotografia.
Entre os melhores programas de Tiradentes estão as
caminhadas pelas ruas históricas com lojas de artesanato,
ateliês, antiquários e charmosos cafés.
Vista geral da cidade de Tiradentes.
É a mais preservada das cidades que visitamos. Talvez,
por ser a menor, isto tenha contribuído bastante. Quando
se percorre a cidade, tem-se a nítida sensação
de que o tempo parou, de que voltamos no tempo.
Nesta primeira foto temos uma ruazinha típica de Tiradentes.
Isto tudo sempre me parece muito familiar, pois Casa Branca,
minha cidade natal, tem ainda muito deste estilo, incluindo
o sobradão onde nasci. Essas cidades históricas
mineiras lembram pérolas do passado, incrustadas nas
encostas das montanhas e se espalhando, modestamente, pelos
vales dos auríferos dos rios do passado.
Às vezes, ao escurecer, sentados na pedra da soleira
de suas velhas portas de madeira, parece que ainda se pode
ouvir o ranger das grandes rodas dos carros de boi que, empoeirados,
lentos e determinados, esmagavam, com seu ranger característico,
as irregulares pedras do calçamento. Era um ruído
rouco, um estirar de couro curtido, um atritar de canzis,
um martelar cadenciado dos cascos das 6 juntas de bois, que
vinham a léguas, cortando as altaneiras serras de Minas
Gerais.
Na segunda foto, os amigos descendo de suas “montarias” que
nos trazem ao presente, para revivermos o passado. ( O “Xis
Egg com cat chup”, dava o tom colorido na caravana).
Nesse dia, a rua em frente à Matriz estava interditada,
pois estavam fazendo uma tomada para um filme, que se passará
nestas relíquias do passado, percorrendo as rotas e
o ciclo do ouro em Minas Gerais.
Ao longe, altaneira sobre Tiradentes, está a Serra
de São José. É uma formação
de rochas que lembra muito a Serra da Canastra. Segundo um
velho morador do lugar, a Serra de São José
seria um prolongamento da Serra da Canastra.
Não discuti com o senhor em vista da segurança
com que ele afirmou esse fato, mas, infelizmente, não
posso concordar pois: não é a mesma estrutura
nem pertence ao mesmo tempo geológico.
Com boa vontade pode-se ver, no canto superior direito da
foto, um vale que se aprofunda, abrindo uma fenda na Serra
de São José, que segundo o guia, é por
onde passavam as caravanas e tropas com destino a Ouro Preto,
Mariana, Catas Altas, enfim, era a rota do ouro chegando ou
saindo de Tiradentes. O guia nos convidou para irmos, a pé,
verificar; seriam somente quatro horas de viagem! Alegamos
falta de tempo...
O Marcelo e a Cristina estão olhando para a mais importante
igreja de Tiradentes, a Igreja de Santo Antônio tem
ao fundo, a Serra de Santo Antônio. Foi nesta Serra
e desta Serra que todo o ouro deve ter saído, tanto
para as catas a céu aberto como para a batéia
das terras de aluvião das margens do Rio das Mortes.
Todo este ouro foi descoberto no início do século
XVIII (1703), pelos aventureiros bandeirantes paulistas.
A Fachada desta Igreja foi projetada por Antônio Francisco
Lisboa, O Aleijadinho.
A portaria foi executada em pedra sabão por Salvador
de Oliveira. Realmente é um trabalho maravilhoso de
arte e de bom gosto. Na segunda fotografia vê-se: Eu
e o Fernandão.
Não podemos continuar falando da cidade que tem o
nome de Tiradentes sem que mencionemos um importante fato
histórico do Brasil colonial, A INCONFIDÊNCIA
MINEIRA.
Nas primeiras décadas do século XVIII, para
garantir o pagamento de impostos sobre o ouro, Portugal proibiu
a circulação do ouro em pó, e criou as
casas de fundição, onde o metal era transformado
em barras e o imposto de 20%(um quinto) era recolhido. Se
a cota anual não fosse atingida, era feita a derrama,
ou seja, a população era forçada a completá-la.
No final do século XVIII, com o esgotamento das minas,as
vilas do Ciclo do Ouro entraram em declínio. Em 1789,
o anúncio da realização da derrama causou
revolta em um grupo do qual faziam parte: Tomás Antônio
Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, os padres Rolim e
Toledo e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes. (alferes - V. hierarquia militar - Militar que
detém a posição hierárquica de
alferes: & Porta-bandeira).
Porém, a conspiração foi delatada ao
governador pelos contratadores portugueses, entre eles Joaquim
Silvério dos Reis. A derrama foi suspensa e os inconfidentes
presos.
Em 1782, saíram as sentenças: A maioria dos
inconfidentes foi degredada para a África e Tiradentes,
condenado à forca. Em 21 de abril foi executado, seu
corpo esquartejado e sua cabeça ficou exposta na praça
principal de Vila Rica.
É um quadro? É uma pintura? Indescritível
o que se sente, sentado no banco da praça da igreja
e olhando para esta imagem, ao vivo! É o sabiá
com seu canto melodioso, é o arfar do vento fresco
vindo da Serra de São José acariciando a paisagem,
é um burburinho de vozes amigas e sons harmônicos,
é o recordar de um passado, dos tempos da inocência
de nossa vida. Gostaria de parar o tempo, como o fez a máquina
fotográfica, mas, impossível, a vida é
dinâmica, pois o que vemos e sentimos é fruto
de nossa mente e não nescessáriamente do que
está à nossa frente.
Casa Branca, minha cidade natal, Largo do Rosário,
esta cena lembra-me tanto aquele longínquo lugar de
meu passado. Lá ao fundo era a casa de D. Maria Adélia,
com o quintal cheio de jabuticabas, que à noite íamos
“roubar”, mera aventura, pois, nossos quintais eram cheios
de jabuticabeiras...O tempo passou, mais de 50 anos, e nesses
momentos de meditação, essas lembranças
retornam à mente com imagens nítidas, sentimos
o cheiro delicioso da dama da noite; vejo os companheiros
tomando conta enquanto pulamos o muro, o latido dos cães
nos bairros ao longe, e a lua cheia guiando nossos titubeantes
passos até a árvore do fundo do quintal, onde
os frutos eram maiores e mais doces...E quanto mais o tempo
passa mais doce são nossas recordações.
Esta é a frente da Igreja de São Francisco,
com sua rua principal, onde estavam fazendo a filmagem.
Sentado nesta escadaria, vendo ao longe a Serra de São
José, que corta a região até São
João Del Rei, tendo a seus pés a outrora caudalosa
corrente do Rio das Mortes, que corre paralelo à serraria,
não posso deixar de imaginar os numerosos momentos
históricos que a região já viveu.
Imagino o retumbar do tiro dos bacamartes, no sangrento encontro
entre os Bandeirantes e os Emboabas há três séculos,
em 1709, às margens do Rio das Mortes, em uma área
entre Tiradentes e São João Del Rei. As armas
eram ineficazes, carregadas com pedras e pólvora preta,
que faziam mais fumaça que estrago. Assim, os tiros
não eram mortais e o fim dos inimigos era na arma branca,
na faca, na espada e na lança. Os corpos, mutilados
e sangrando, ainda com vida, eram lançados no rio,
para que, no afogamento, o serviço ser terminado.
Depois de horas de lutas, era um rio de sangue e de corpos
que desciam, um espetáculo horrível em prol
do ouro e do poder. Foi neste momento que o rio recebeu seu
nome: RIO DAS MORTES.
Talvez, nestes três séculos, o homem não
tenha mudado. Os bacamartes viraram metralhadoras; as lanças,
mísseis; o cavalo, tanques e aviões; a pólvora
preta , TNT e armas atômicas; o ouro, o poder e petróleo...e
para matar já não precisam dos rios para afogar
os moribundos, pois as armas são absolutamente letais.
A tempo, Emboabas: Nos tempos coloniais, alcunha que os descendentes
dos bandeirantes paulistas davam, especialmente na região
das minas, aos forasteiros portugueses e brasileiros de outras
origens, que entravam no sertão em busca de ouro e
pedras preciosas.
Este é o famoso CHAFARIZ da cidade de Tiradentes:
Todo o grupo está aí reunido, aproveitando para
tomar de sua límpida e fresca água.
Da esquerda para a direita: Dr. José e Dani com sua
filha;Elias e Dani, José Milton; Fernandão;
Sergio Lima; Cristina e Marcelo.
O chafariz de São José foi construído
pela Câmara Municipal, em 1749. Na fachada, o nicho
que abriga a imagem de São José de Botas é
encimado por um brasão de armas do reino de Portugal.
O chafariz cumpria tríplice função: abastecer
a cidade de água potável, servir para lavar
roupas e dar de beber aos animais.
A água chega ao chafariz por um aqueduto de pedra que
desce do Bosque da Mãe D’água, situado ao pé
da Serra de São José. Numa curiosa postura da
câmara Municipal, eram punidos e presos os que desrespeitassem
as normas de utilização do chafariz. Por exemplo,
havia pena para os negros que amolassem facões nas
pedras do chafariz.
Esta é um aspecto típico da construção
de uma casa da época colonial. Primeiramente era feito
uma estrutura de madeira de lei principal a aroeira; as madeiras
eram encaixadas sem nenhum tipo de contenção,
como pregos ou parafusos, que, aliás, não existiam
na região, naquela época. Era, como se pode
ver, um acabamento perfeito, com tudo muito bem equilibrado,
encaixado e sustentado por tesouras, mãos francesas
e outros recursos de carpintaria.
“Nosso querido sobradão em Casa Branca, com os cuidados
da Rita & Regina, tembém, foi feito assim no século
retrasado, e lá está, de pé, soberbo
e maravilhoso. Espero que ele permaneça impoluto por
mais algumas gerações, como uma memória
viva da família do vovó Rita e Dr. Narciso”.
A expressão “ Sem eira nem beira “, que significa
sem recursos, na miséria, vem desta imagem das casas
antigas. As casas das pessoas mais importantes e ricas tinham
estas duas estruturas no arremate do telhado; já as
casas mais simples não tinham nem a eira e nem a beira,
eram taperas. Daí nasceu a expressão.
Em um filme “Hilda Furacão”, com Ana Paula Arósio,
ela se entrega a um jovem padre neste lugar, onde havia uma
cruz. O lugar ficou tão famoso que até acabaram
sumindo com a cruz, pode?
Cristina, fotografando uma vista de Tiradentes, provavelmente
a fotografia que ela tirou fosse a que se segue. Fiquei olhando
minha filha e meditando: O tempo, os lugares e as pessoas.
Há mais de 20 anos, havia levado ela com as irmãs
neste mesmo lugar.
Tenho a filmagem. Elas correram, pularam pela grama e nem
pude apreciar a paisagem, pois queriam ir tomar lanche, andar
de charrete e continuar brincando. A árvore é
a mesma, talvez um pouco maior, o ambiente o mesmo e minha
filha?
- Uma mulher! Inteligente, formada, com uma sensibilidade
profunda pela vida, uma consciência concreta pelo tempo
e uma percepção sutil pelas pessoas.
Senti-me feliz, nestes momentos de introspecção,
vendo o fruto de meu amor, com essas características
a alma e coração se juntam em uma silenciosa
felicidade íntima. Só o amor constrói!
Despedindo de Tiradentes, levando na mente esta visão,
que acredito ser uma das vistas mais significativas da pequena
e encantadora cidade histórica de Tiradentes, prosseguirei
minha trilha, como os bandeirantes, não em busca de
ouro, mas a cata de etéreas e prazerosas recordações
do passado.
O tempo é relativo, tantas são as trilhas, que
não podemos passar “batidos” pelos caminhos, pois não
podemos nos dar ao luxo esquecer, ou não sabermos apreciar,
por onde estamos passando. Não podemos caminhar como
ébrios, procurando curar a ressaca de uma vida infeliz.
Devemos sempre ter um sentido, um objetivo, uma paixão
nas trilhas de nossa vida.
SÃO JOÃO DEL REI.
A cidade tem, hoje 78.000 habitantes. Por ser já
uma cidade de porte ela perdeu muito de suas características
da época colonial.
Fica a 185Km de Belo Horizonte e a 14Km de Tiradentes.
A cidade foi fundada em fins do século XVII por taubateanos
(paulistas de Taubaté) liderados por Tomé Portes
Del Rei, que por isso, é considerado seu fundador.
Foi nesta cidade que, em 1709, os portugueses articularam
um ataque aos paulistas no “capão da traição”,
dando início à Guerra dos Emboabas. No início
os paulistas foram emboscados e chacinados pelos portugueses,
como já abordamos, dando origem ao nome de Rio das
Mortes.
Hoje a cidade vive do turismo, da mineração
e do comércio.
A Cristina, o Marcelo e a Dani (de costas), estão
olhando o centro velho da cidade que ainda mantém características
da época colonial. Estamos na frente da Igreja de São
Francisco de Assis, cuja fachada forma um belo conjunto com
as palmeiras imperiais da Praça Frei Orlando.
Nesta cidade sente-se o contraste dos tempos, é uma
miscigenação do antigo com o novo. Não
é uma mistura muito palatável. Existe em São
João Del Rei um contraste, ou melhor, um ambiente que
nos deixou tensos. Sentimos uma falta de apoio ao turista,
pareceu-nos que a cidade e seus habitantes preferem o “moderno”,
a correria, muito mais que a tranqüilidade das velhas
cidades mineiras.
Realmente este portal da Igreja de São Francisco de
Assis é uma obra de arte maravilhosa. O guia nos explicou
tantos detalhes que me sinto impotente e sem conhecimentos
suficientes para a descrição que merecia ser
feita deste extraordinário trabalho artístico.
Em São João Del Rei nasceram muitas pessoas
famosas. Aí, estamos no cemitério que fica atrás
da igreja e onde está sepultado, para nós da
atualidade, seu filho mais famoso: Presidente Tancredo de
Almeida Neves. Realmente, um homem importante, que merece
nosso respeito e tristeza por ter morrido pouco antes de tomar
posse como Presidente da República.
Este é o cemitério. Incrível, mas é
um lugar onde um sentimento diferente nos invade o coração.
Seria a beleza arquitetônica da parte posterior da igreja?
Seria a presença de centenas de flores em vários
sepulcros? Ou seria a temporalidade de nossa existência?
Creio que esse cadinho de idéias, como uma plêiade
de fatos, sons e memórias, nos tenha conduzido a uma
meditação do presente com vistas ao passado,
e podemos concluir, humildemente, que realmente, o que vemos
e sentimos são breves e importantes momentos da arte
de viver. Se ao contemplar tudo isso, não sentirmos
nada, devemos repensar nossos conceitos, rever profundamente
os paradigmas de nossa vida, em busca de uma nova maneira
de ver e vivenciar nossa rápida passagem por esta maravilhosa
aventura: A VIDA.
Aí está São João Del Rei visto
de seu ponto mais alto, de onde podemos ter uma idéia
de parte da cidade, com as Alterosas ao fundo, para o lado
de Tiradentes.
Repentinamente, toda a emoção do grupo foi se
esmaecendo; o guia falava e ninguém ouvia...o que seria?
A fome. Quando o José Milton falou do rei das empadinhas
foi uma debandada geral do grupo.
O Elias e Marcelo desceram do morro pelo atalho...e as Igrejas
viradas para a Matriz ficaram para depois! O que não
faz a fome!
Muito bom, bom mesmo, afinal, ninguém é de
ferro. A galinha ao molho pardo, etc, etc, nos trouxe ao sadio
companheirismo...Como é gostoso viajar com um grupo
harmonioso como este! O José Milton era o comandante,
conhecido do dono do restaurante. Foi um almoço às
14:30h, no “restaurante do padre”, que durou mais de hora.
Tantos casos para contar, tantos comentários, até
a chegada das fartas e fumegantes cubas de pedra sabão
com os frangos, farofas, torresminhos, lingüiça,
arroz e feijão tropeiro...Aí, fez-se silêncio...
Eram garfos e facas em ação. E o Fernandão,
meu sobrinho, lá na ponta da mesa: “Mais é boa
mesmo essa comida”. Terminamos com doce de leite e ...cama,
lá na pousada.
Parte e aspecto dos pratos mineiros que foram servidos.
O José Milton pediu para não ser convidado
para o passeio da tarde; ia por o sono em dia.
Nós fomos para um lugarejo chamado Bichinho e depois
para Prado, onde compramos sapatos e botinas bem baratos.
Eu comprei uma linda sela por 142,00 reais, “ Eta trem bão,
sô”
Há meses estamos marcando a data para voltarmos à
Prado e fazermos umas compras...mas o tempo vai passando e
a motivação ainda não foi suficiente
para a viagem sair.
Esta é a linda Luiza, que foi a mascote mais bonita
que nossa caravana já teve. É ver e confirmar
minha assertiva.
Dia 15-11-2002. Estamos nos preparando para irmos para Macacos,
cumprindo uma extensa trilha, ou melhor, um longo percurso.
Aí está um esquema da viajem que fizemos:
1.Tiradentes, 2.São João Del Rei, 3. Cel. Chavier
Xaves, 4. Lagoa Dourada (terra dos rocamboles), 5. Entre Rios
de Minas, 6. São Brás do Sapucaí, 7.
Conselheiro Lafaiete, 8. Ouro Branco, 9. Ouro Preto, 10. Mariana,
11. Santa Rita Durão, 12. Catas Altas, 13. Barão
de Cocaes, 14. Parque Nacional do Caraça, 15. Belo
Horizonte e 16. São Sebastião das Águas
Limpas (Macacos).
Esta viagem foi realizada praticamente sobre os Escudos Expostos
(abóbadas e saliências dorsais dos arqueamentos
do Espinhaço Geral ).
Ao fundo, a Serra de São José. Os meninos estão
carregando a moto do Marcelo para seguirmos até Macacos.
Estamos na pousada. Tudo foi muito rápido e fácil.
Quanto os jovens “estão a fim” de alguma coisa, não
há obstáculo para eles.
Estamos parados em um Posto de gasolina em Ouro Branco, a
caminho de Ouro Preto e Mariana. Na fotografia, a Ranger do
Elias, a L200 do Marcelo e a Frontier do José Milton,
e toda a turma fazendo uma conferência para saber onde
iríamos almoçar.
Neste ponto começa uma Serraria que se estende, praticamente,
até Catas Altas; os caminhos vão cruzando Serras,
belos vales, uma paisagem incrivelmente diversificada. Todo
brasileiro deveria fazer esta viajem com um bom guia e um
professor de história, pois quando estes caminhos eram
cruzados por mulas carregadas de ouro para os portugueses,
que o desperdiçavam com a Inglaterra e conquistas infrutíferas,
o resto do Brasil, o resto do Brasil, como a região
de Ribeirão Preto (Mogiana), Alta Paulista (Rio Preto),
Sorocabana ( Andradina , Junqueirópolis, Prudente)
ainda eram matas virgens, onde os índios Guaranis e
outras tribos viviam selvagemente.
Uma imensa mineradora existe entre Ouro
Branco e Ouro Preto. O homem, em sua atividade, agride profundamente
a natureza. Este, provavelmente, é um imenso tanque
de decantação da mineradora, e a mata, e rios,
nestes pontos, estão completamente destruídos
e contaminados.
Como dizem, passamos “batidos” por Ouro Preto e Mariana.
Era feriado, as cidades históricas estavam repletas
de turistas, foi muito difícil cruzar suas estreitas
ruas. As imagens e o histórico destas importantes cidades,
terão que ficar para uma outra ocasião.
A viagem das cidades históricas até Catas Altas
e Mosteiro do Caraça é riquíssima em
detalhes históricos e geológicos.
Restam numerosos vestígios da estrada imperial que
unia estas cidades onde o ouro era encontrado em abundância.
Vimos pontes e aterros feitos de pedra, assinalando o antigo
traçado das Trilhas do Ouro.
Muitas vezes, paramos nos vales profundos, olhando para o
alto dos espigões da Serra do Espinhaço e imaginando
os tempos geológicos que moldaram, durante milhões
de anos toda aquela riqueza de detalhes.
Deixando nos caminhos das lavas vulcânicas, que fluíram
espremidas em suas entranhas o ouro, o diamante e uma das
maiores reservas de ferro do planeta.
Em cada região o vulcanismo deixou sua reserva de riquezas:
Nestas o ouro, que pela erosão destes feios de lava
vulcânica, despejou o ouro de aluvião nos leitos
e nos barrancos de sedimentos. Depois o homem, em Mariana,
por exemplo, ainda achou seu veio, e penetrou terra a dentro
retirando o ouro ainda misturado com o basalto do magma que
aí, há milhões de anos, escorreu, por
entre as fendas das rochas sedimentares metamórficas,
quando ainda fazíamos parte da Pangéia, o grande
e único continente primitivo, que formava a crosta
da Terra
Na grande região de Diamantina, nestes feios existiam
grandes quantidades de diamantes.
Sem contar a região do coração de Ferro
de Minas Gerais...são tantas riquezas...e...por que,
tanta pobreza, é a ...
CHEGANDO AO COLÉGIO DO CARAÇA.
Primeira visão do famoso Colégio do Caraça.
Depois de subirmos uma Serra muito íngreme, na encosta
oeste da Serra do Espinhaço, nos deparamos com essa
visão. Difícil conceber como homens valentes,
obstinados e com uma determinação a toda prova,
conseguiram, há mais de 3 séculos construir
esta monumental obra praticamente no meio do nada. Mesmo sem
querer fazer uma analogia, lembrei-me dos monges tibetanos,
que construíram seus monastérios nas montanhas
mais altas do mundo, quase se despencando de escarpas inacessíveis,
na cordilheira do Himalaia, em busca do que? Do encontro do
homem físico com o homem espírito, que deve
seruma experiência extraordinária, e que é,
realmente, o que deve contar.
Para muitos filósofos este encontro vale a busca de
uma vida inteira.
E para mim, modestamente falando, uma vida inteira nada vale,
se em nenhum momento o homem físico não consegue
se identificar profundamente com seu espírito. O espírito
não é simplesmente uma idéia vaga para
mim, ele é a somatória de nossos sentimentos,
de nossos amores, de nossos quereres, modulados pela nossa
mente no estágio de meditação. É
muito complexo tudo isto, por esse motivo, acredito que estes
homens buscaram, na solidão das distâncias e
na harmonia da natureza, um lugar para se encontrarem consigo
mesmos na eterna busca de identificação com
o Criador.
Tantos livros leram, tantos ensinamentos de milênios
buscaram, procurando sempre a chave, o caminho que os conduzissem
pela trilha árdua desta dificílima busca.
Com a teleobjetiva tudo parece ficar ao alcance da mão.
A igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, com sua esguia
torre, a monástica arquitetura do colégio, a
biblioteca à direita, vítima de um incêndio
causado por uma lamparina de um estudante e que destruiu preciosíssimas
obras do acervo da biblioteca vetusta do colégio...Tudo
parece tão perto!
Para chegarmos a este ponto da estrada, já havíamos
percorrido mais de 450Km. Conhecemos muito das trilhas do
ouro, vimos trechos da estrada imperial. É emocionante
ver tudo isso, poder contemplar e imaginar tropas de mulas,
carregadas de bruacas, com seus passos cadenciados cortando
estes estirões infindáveis: Eram tantas as pedras
e as distâncias, que, periodicamente, o ferreiro da
caravana tinha que trocar as ferraduras dos muares. Ainda
se encontram, nos pousos dessas comitivas, restos de cravos
e pedaços destruídos de velhas ferraduras, bem
como o carvão das fogueiras, para esquentar os cravos
fixando e modelando as ferraduras, nos cascos dos animais.
O nome do parque vem de Caraça (rosto grande). Tem
um pico, que tentei mostrar, que lembra um gigante deitado
na montanha. Na sede do Parque funciona o Colégio e
o Convento do Caraça, construídos entre 1774
e 1779. No Parque existem numerosas trilhas para serem percorridas
a pé...eu e José Milton estávamos com
uma vontade louca de percorrê-las, mas os meninos afinaram!
Esta mocidade de hoje...queriam percorrer a trilha correndo,
aí já seria demais!
Bela fotografia do José Milton, Cristina e Marcelo,
percorrer todo o colégio foi tranqüilo pois o
nosso guia, o próprio J. Milton, tudo sabia e conhecia.
Mesmo lugares não aberto a visitação,
ela com a maior naturalidade abria as portas, identificava
os espaços e era muito bem recebido por todos. Até
acho que ele está preparando o terreno, para arranjar
um lugar lá, para eu terminar meus dias, na clausura
e na solidão do Caraça.
Andando nestes corredores, vendo os lugares onde os antigos
padres – professores, foram enterrados, é impossível
não sentir a força que o lugar exerce sobre
todos nós. Há uma umidade fria no ar ambiente,
o silêncio, às vezes, é entrecortado por
ruídos estridentes, como sinos caindo, janelas imensas
batendo, mesmo sem vento...
Nosso andar cauteloso faz as velhas tábuas do chão
rangerem, enfim, é uma sensação muito
profunda, fazendo com que a gente sinta de forma irresistível
uma vontade de voltar. Voltar para que? Voltar para ver tudo
aquilo que imaginamos e não pudemos ver, voltar para
sentir, no fundo de nosso ser, algo muito maior que nossa
visão pode nos oferecer: Voltar para, sentados nos
bancos da capela, nas pedras do pátio, na beirada dos
canteiros, sentir um pouco de toda força mística
que aquele complexo de fé pode nos transmitir, da forma
mais sutil que alguma coisa poderia nos atingir a alma, o
silêncio para a meditação, o encontro
da paz.
Estávamos caminhando pelo corredor, admirando essa
imagem singela e de rara beleza, quando este carrilhão
tocou. O som, criando um eco harmonioso, deu vida ao ambiente.
Eu e José Milton estávamos aí, ao lado
do museu.
Para dar a ele um parâmetro de minha idade, eu lhe contei
que naquele museu, não havia nada que eu já
não tivesse usado: O telefone de magneto, as máquinas
de escrever Remington, Olivetti, cadeiras, louças,
talheres, etc...
Meu grande amigo foi então ao museu e requereu um formulário
para doar-me também a ele, como uma peça histórica
do passado.
Indescritível a sensação de estar nesta
capela. Um aluno – professor, nos deu um histórico
do Colégio do Caraça; a história é
complexa, cheia de idas e vindas, mas fato sempre presente
é a fé destes homens e a vontade inabalável
do encontro espiritual com o Criador.
Pelos vitrais seculares, filtrava uma luminosidade difusa,
mas intensa! Paradoxalmente, havia no interior da capela um
nítido contraste entre as sombras, luzes e a escuridão.
Isto tornava o ambiente místico, sobrenatural e o ar
de uma leveza indescritível. Sentimo-nos não
bem em seu interior, que um longo período de tempo
havia passado sem que nos déssemos conta do relógio.
Despedida do Caraça. Aí está uma foto
da distante escarpa da montanha da Serra do Espinhaço,
na região posterior do colégio, que tem o aspecto
de um homem ciclópico deitado no vale, daí o
nome de Colégio do Caraça.
Seguimos viagem para Macacos com passagem por Belo Horizonte.
Tínhamos muito chão pela frente, então
o José Milton pisou fundo na sua Frontier, e não
deu outra: logo estávamos chegando por lá. É
só aventura!
No outro dia fomos fazer algumas incursões na região
de Macacos ( São Sebastião das Águas
Limpas): Aí estamos no alto de um morro a mais de 1.200m
de altitude. Ao fundo das duas fotos abaixo podemos ver Belo
Horizonte se espraiando entre as montanhas.
Montanhas, vales e estradas de terra se perdendo nas distâncias,
tudo isso cria uma dimensão tão grande, que
torna o momento muito especial e particular, um êxtase
para o espírito viajante, impulsionando necessidade
de novas buscas, novos desafios e novos panoramas.
Nestes momentos, procuramos nos localizar na praia do universo,
neste tênue limite entre o solo e o espaço, procurando
as mais altas elevações, como se fosse uma busca
do encontro entre a Terra e o Espaço Sideral.
Talvez a única noção que temos, com mais
clareza, do espaço infinito que nos cerca, é
a noite: o espaço sideral que envolve todos os sistemas
planetários e todas as galáxias, sempre pode
ser melhor imaginado em uma noite escura e estrelada, vendo
a Via Láctea deslumbrantemente desenhada na abóbada
celeste.
Quem não consegue pensar, com clareza, vendo as constelações
no zodíaco, que realmente a superfície da Terra
ou do Mar é um limite, ou seja, a Praia do Espaço
Sideral?
Talvez, nesta fotografia, eu tenha encontrado a síntese
resumida de meu sentimento. Nuvens em altos estratos, pequenos
flocos de cúmulos de bom tempo, vagando pelo espaço,
os tons das nuvens se alterando com nosso ponto de vista.
Somente as sombras das nuvens deslocando-se pelo solo, 800metros
abaixo, nos atestam a dinâmica da troposfera que nos
cerca. Que vontade de levantar vôo, de percorrer o espaço
em busca da identificação entre o etéreo
infinito do espaço e o sólido limite da Terra.
Talvez, se eu fosse um sábio, com grande capacidade
de meditação, teria pedido, a meus companheiros,
com sutileza, que ficassem quietos por alguns momentos, ou,
horas talvez, para poder sentir, ouvir e admirar um pouco
do muito que esta vista pode oferecer.
Mas, o relógio anda ininterruptamente! Queremos ainda
ir a tantos lugares, que os lugares por onde andamos tornam-se
retalhos de um grande tapete, que são nossas lembranças,
povoadas com imagens desconexas, pois quase nunca dispomos
de tempo suficiente para de analisá-las e posicioná-las
em seus devidos lugares em nossa mente. Na maioria das vezes,
passamos “batidos” pela vida e estamos, ao final, abatidos,
por não termos vivido como deveríamos, em nossa
curtíssima existência.
Estava com a Cristina, acariciando esses sentimentos, quando
um feliz aventureiro ascendeu silenciosamente no espaço,
concretizando meu sonho de voar com os pássaros ao
sabor do vento, subindo com as correntes ascendentes deste
cúmulo que aparece na foto, em busca da liberdade de
voar para um destino indefinido, ou seja, para onde a brisa
levar.
Para este vôo da liberdade, é preciso antes
de mais nada ser um forte, ter audácia, desafiar as
leis da gravidade e confiar em si mesmo acima de qualquer
coisa, pois um pequeno erro neste momento e a queda seria
fatal. São minutos de espera pelo vento na direção
certa, não pode ser muito forte, nem muito fraco, tem
que ter força exata. Chegado o momento, é se
lançar ao espaço, curtindo a aventura. A vida
é nossa maior aventura e para sermos felizes temos
que ter sempre a audácia do risco...se não arriscarmos
nunca, jamais viveremos uma verdadeira aventura...
E, que aventura! Primeiro, um decola levado pelo vento, depois
outros, e em um pequeno espaço de tempo, é um
bando, como pássaros, planando nas correntes de convecção,
como aves migratórias, em busca de mais altura para
atingir a maior distância possível. E, em pouco
tempo, os homens pássaros, são simples pontos
sumindo no horizonte distante.
O RESTAURANTE DO MARCINHO.
Aí está nosso gentil anfitrião, Zé
Milton, que nos levou ao famosíssimo bar do Marcinho.
A mais perfeita comida mineira, o mais perfeito companheirismo,
isso é passeio, isso é encontro! Nesse restaurante
no meio da mata, perdido na serra, se encontram centenas de
motoqueiros, trilheiros, jeepeiros e outras espécies
de aventureiros, que gostam do emergente eco-turismo.
À tarde, saímos de Macacos para fazermos uma
trilha, era a trilha “ sem fim”. Como podemos ver, largamos
a estrada batida e pegamos o rumo...bem, ninguém sabia
onde ia parar. Ao longe, no morro, Dr. José, mais perto,
o Marcelão com sua L-200, eu e Zé Milton partimos
cautelosos, mas seguros, atrás.
A trilha era uma sucessão de imagens espetaculares
como esta. Passava quase sempre pelo vértice das montanhas,
o que sempre nos possibilitava vermos os dois lados do relevo,
e que relevo!. Em certas subidas, com 4X4 e reduzida, ainda
tínhamos medo da máquina não ter aderência
suficiente para romper as íngremes barreiras a nossa
frente. As máquinas se portaram muito bem. O Zé
Milton estava afiado, pois o perigo era grande; para qualquer
lado que se derrapasse, era rolar ribanceira abaixo. Pura
adrenalina, pura emoção, e o cenário,
a cada curva, tornava-se mais belo...Indescritível
a emoção de se trilhar esses esquecidos lugares
de Minas.
Uma parada para fotos e analisar com carinho a paisagem;
algumas cidades perdidas à distância, como. Nova
Lima, muito esmaecida ao longe no horizonte. Belo Horizonte
estava situada às minhas costas. Atrás do Zé
Milton, o heróico quadriciclo do Elias.
Eu e Zé Milton, no alto da montanha, vendo os companheiros
discutindo uma passagem muito perigosa na subida da trilha
oposta. Considerando a segurança, e para dar exemplo
de maturidade, não acompanhamos os jovens nesta empreitada.
“Seguro morreu de velho”.
Por sinal eles voltaram, pois não também não
conseguiram passar.Não sou adepto de trilhas de grandes
graus de dificuldades, elas nos tiram o prazer do passeio,
trazendo mais preocupação que satisfação.
Estamos na frente de nossa pousada em Macacos
nos despedindo.
Assim termina nossa viajem. Já falei tanto, que sinto
vontade de dizer uma única frase no final deste passeio
maravilhoso: MUITO OBRIGADO, COMPANHEIROS, QUANDO QUISEREM
PROGRAMAR OUTRA, ESTOU JUNTO!